Apesar do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR) estar ativo desde 15 de maio em todo o país, o de Abrantes foi apresentado esta quarta-feira, dia 18 de maio. Numa das freguesias prioritárias do concelho de Abrantes, Carvalhal, o campo onde treinam e jogam “Os Lobos” foi o palco para entrarem as diversas formações que integram um dispositivo cada vez mais encorpado com mais entidades, que representa igualmente mais meios.
O DECIR Municipal de Abrantes conta com uma particularidade cada vez mais destacada pelos responsáveis da Proteção Civil: os kits de primeira intervenção das juntas de freguesia. E para este ano de 2022 há mais duas freguesias a integrar este dispositivo, embora esta quarta-feira ainda não tivessem mostrado as viaturas equipadas. Trata-se do Pego e de Fontes, a segunda outra das quatro freguesias prioritárias, ou seja, com maiores riscos de incêndio. Para o dispositivo cobrir todas as freguesias do concelho falta o equipamento em Martinchel e em S. Miguel do Rio Torto e Rossio ao Sul do Tejo. Pego e Fontes juntam-se, desta forma, à União de Freguesias de Abrantes e Alferrarede (dois kits), Aldeia do Mato e Souto, Bemposta, Mouriscas, S. Facundo e Vale das Mós, Rio de Moinhos,Tramagal e Carvalhal como freguesias com equipas de primeira intervenção.
Paulo Ferreira, Comandante Operacional Municipal (COM) da Proteção Civil vincou o trabalho que é feito por estas equipas, mesmo quando não estão pré-posicionadas no terreno à disposição do comandante dos Bombeiros de Abrantes, o que acontece apenas nos dias em que a Proteção Civil aciona o alerta laranja ou vermelho. Mesmo assim se acontecer uma ignição numa destas freguesias o Kit da junta de freguesia chega muito rapidamente ao local e, em grande parte das ocorrências resolve o problema.
“Todos os fogos iniciais são fogos pequenos”, diz Paulo Ferreira, pelo que a intervenção rápida pode ser meio caminho para apagar fogos nascentes.
E um dos exemplos foi mesmo o deste fim de semana em que a Junta de Freguesia de Aldeia do Mato e Souto estava a montar o seu kit na carrinha quando teve de acorrer a um incêndio que estava a começar na vizinha freguesia de Fontes. A prontidão evitou males maiores. Houve outros casos em que o Kit até foi em apoio de uma localidade num outro concelho. Aconteceu nos Foros do Arrão, concelho de Ponte de Sor, em que a viatura da Junta de Freguesia de Bemposta, pela proximidade e rapidez, solucionou aquela ocorrência.
Paulo Ferreira, explica que Abrantes tem um território muito grande e precisa de ter todos os meios possíveis no terreno e a integrar este dispositivo. Começa com a força dos Bombeiros Voluntários de Abrantes que este ano passam a ter uma segunda equipa de intervenção permanente para fazer face ao verão. Mas ao lado dos bombeiros e das juntas de freguesia estão as equipas de sapadores florestais da Associação de Agricultores e da Comunidade Intermunicipal, estão os militares do Serviço de Proteção da Natureza (SEPNA) e a Unidade Emergência e Proteção Civil (UEPC) da GNR, os militares do Regimento de Apoio Militar de Emergência (RAME), sediado em Abrantes, Cruz Vermelha Portuguesa e também a GNR e PSP. Acrescentam-se ainda aos meios as equipas dos produtores florestais (Altri, Navigator e Gestiverde) e meios municipais que podem ser acionados em caso de incêndio, como máquinas de rastos, veículos (cisterna), mecânicos ou outro tipo de apoio logístico. E não pode, naturalmente, ficar de lado a equipa do Serviço Municipal de Proteção Civil que tem um outro trabalho de logística de apoio aos operacionais que avançam para o terreno.
Paulo Ferreira revelou que o serviço tem identificados todos os meios privados que podem ser requisitados, consoante as ocorrências. Entre viaturas e tratores ou, por outro lado, estruturas físicas e edifícios que podem ser necessários para fazer face a uma qualquer urgência. De notar que o Serviço Municipal de Proteção Civil faz essa articulação entre o Município e as forças operacionais.
Paulo Ferreira destaca ainda o trabalho que está a ser desenvolvido nalgumas aldeias das freguesias do norte do concelho de Abrantes com a criação dos oficiais de segurança e da colocação de sinalética de segurança. Neste projeto, denominado “Aldeias Seguras” falta agora as ações de formação junto dos habitantes para que percebem os sinais já colocados e a forma de atuar em caso de incêndio que afete a aldeia. “Os oficiais de segurança de cada aldeia conhecem as pessoas, sabem as suas situações, de idosos com dificuldades de locomoção, mais isolados, pessoas acamadas e são a ponte para as autoridades no caso de ser necessária uma evacuação de larga escala”, explica Paulo Ferreira que acrescenta ainda que, nestes locais, todos devem saber para onde devem “fugir” por forma a facilitar o trabalho dos operacionais que estão encarregues do combate às chamas.
Ribeira da Brunheta, Carril e Sobral Basto e Maxial e Maxial do Além são as aldeias que estão com este programa em curso e que este ano terão as sinalizações colocadas e as as explicações dadas a todas as pessoas.
Paulo Ferreira, Comandante Operacional Municipal Proteção Civil
Este ano o dispositivo volta a ter meios pré-posicionados no terreno por forma fazer uma grelha no território do concelho de Abrantes com meios deslocados. Se no norte do concelho caberá aos bombeiros, com o apoio dos kits das juntas de freguesia, estas ações, no sul do concelho serão as equipas de sapadores florestais da Associação de Agricultores, com apoios dos kits das juntas de freguesia.
O vice-presidente da Câmara de Abrantes, João Gomes, saudou todas as entidades e respetivas equipas que estão preparadas para um ano que se perspetiva difícil face ao que tem sido o clima. Ano muito seco, com alguma chuva em abril, que fez disparar o crescimento dos materiais combustíveis.
“Todas as entidades que estão aqui são importantíssimas” afirmou João Gomes que agradeceu a todas a disponibilidade de operacionais e meios para integrar o dispositivo. E quando chegou às juntas de freguesia destacou Fontes e Pego por serem a novidade do DECIR, mas com maior realce para a primeira “que tem sido flagelada nos últimos anos com muitos incêndios. Mas o trabalho é importante em conjunto, porque só todos juntos se consegue um bom trabalho.”
No que diz respeito aos kits das freguesias o vice-presidente da Câmara de Abrantes sublinhou o investimento de 175 mil euros “mas uma verba muito bem empregue.”
João Gomes, vice-presidente da CM Abrantes
Se as freguesias do Pego e de Fontes são a novidade no DECIR municipal, a viatura de Aldeia do Mato e Souto no primeiro dia em que teve o kit instalado teve de sair para uma ocorrência. Álvaro Paulino, presidente da União de Freguesias, explicou que tiveram uma chamada de um habitante que reportou a existência de um pequeno incêndio na freguesia de Fontes. Mesmo sendo uma situação que estaria controlada a equipa deslocou-se ao local para fazer o rescaldo e garantir que não iria haver qualquer perigo.
Num ano que se prevê complicado, pelas indicações de um verão eventualmente muito seco e quente, Álvaro Paulino diz disse que os habitantes do seu território estão conscientes dos problemas que podem vir a ter, tanto mais que depois dos grandes incêndios do norte do concelho, em 2017, as encostas florestais voltaram a ganhar muita matéria combustível e que cresceu de forma desordenada.
Álvaro Paulino espera um verão calmo, era esse o seu desejo, mas revelou que a equipa está preparada e saudou a nova viatura de Fontes que vai acabar por ser mais um reforço de meios num ataque inicial rápido a qualquer fogo que possa nascer naqueles territórios.
Álvaro Paulino, presidente União Freguesias Aldeia do Mato e Souto
No âmbito do DECIR nacional está já em funcionamento, desde o dia 7 de maio, a Rede Nacional de Postos de Vigia, composta por 77 postos de vigia para prevenir e detetar incêndios.
Os meios de combate a incêndios em Portugal voltam a ser reforçados em 01 de junho, mas é entre julho e setembro, conhecida pela fase mais crítica, o período que mobiliza o maior dispositivo, estando este ano ao dispor de 12.917 operacionais, 3.062 equipas, 2.833 veículos e 60 meios aéreos.
O DECIR para este ano, no país, é mais seguro e de maior confiança, disse o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro. José Luís Carneiro disse também que o DECIR, apresentado em Castanheira de Pera no sábado, dia 15 de maio, tem mais meios, mais competências e «mais conhecimento científico agregado ao planeamento e à resposta».
O ministro falava na apresentação deste dispositivo, onde referiu que, atualmente, também «o País está mais bem preparado para lidar com situações dessa natureza», acrescentando que «há sempre aspetos de complexidade que são imprevisíveis».
José Luís Carneiro afirmou ainda haver consciência de que existem «fatores de imprevisibilidade que superam toda a capacidade de diagnóstico, de prospetiva e de planeamento». Destacou também o facto do DECIR ter sido reforçado em meios humanos e materiais, devido ao aumento dos meios financeiros.
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