Vinho e gastronomia casam na perfeição. Aliás, podem, na escolha certa, fazer uma ligação perfeita numa degustação de um qualquer prato.
E foi por aqui que dois empresários de Abrantes, um da restauração e outro do setor vitivinícola, uniram pensamento para dar andamento a uma ideia que germinou, nasceu e foi agora apresentada publicamente. Trata-se de um novo vinho, chamado “Raízes”, lançado pela adega Casal da Coelheira, de Tramagal, com o mote a ser dado pelo Chef Victor Felisberto.
Chef VIctor Felisberto revela o início
A ideia
Victor Felisberto começou por explicar que o seu conceito de cozinha não encaixava nas casas abertas na região. Mas revelou a sorte de ter encontrado o espaço (Casa Victor Felisberto no Cana Verde) onde dá asas à criação gastronómica.
Se a existência de um forno a lenha o levou a enveredar por uma oferta ligada a este pormenor, de pratos confecionados a baixas temperaturas, a vontade de apresentar pratos da região levou a procurar ajuda de quem conhece a área. E foi num trabalho com o especialista em gastronomia, Francisco Armando Fernandes, que encontrou as “perdizes à moda de Abrantes” que lançou recentemente. Foi “à procura de receitas perdidas do concelho”.
Victor Felisberto, com duas estrelas Michelin no currículo, ambas conquistadas fora do país [Aquarius Caldea de Andorra e Portal de Inglaterra], disse que começou a brincar com o forno a lenha por isso, gostava de encontrar vinhos que combinassem com estes pratos. E revelou a vontade de ter esses vinhos da região.
Uma vez na brincadeira com o Nuno (Nuno Falcão Rodrigues) disse “temos é de arranjar um vinho que combine com a comida que eu faço”.
Foi uma ideia que lhe surgiu antes da pandemia. Victor Felisberto diz que tem procurado cada vez mais na região, no pequeno produtor, os seus fornecedores.
E reforçou a ideia: “Se eu vou à Sertã sei o que vou comer e beber. E aqui temos de saber isso. O que comer e beber em Abrantes”.Quanto à celebração religiosa terá a missa com transmissão à qual se seguirá a procissão em honra da Nossa Senhora do Rosário.
Chef VIctor Felisberto sobre a base para a criação de um vinho
O conceito
“É um filho da Covid. Acho que é das poucas coisas boas que a Covid nos deixou. Foi ter um bocadinho mais de tempo para esta ideia. Para ter ideias.”
Foi desta forma que Nuno Falcão Rodrigues, Enólogo e responsável pela adega Casal da Coelheira, lançou este novo vinho.
O desafio que o Chef Victor lançou, de se fazer alguma coisa que pudesse dar mais visibilidade à terra, aos produtos que se fazem nesta região, que ele utiliza na sua gastronomia, era cativante e “onde nos revíamos”.
Nuno Falcão Rodrigues apontou depois a fórmula para dar passos nesse desafio e que era encontrar um vinho que se enquadrasse naquilo que ele queria.
O enólogo disse que procuraram um vinho que fosse elegante, fresco, que tivesse a personalidade que são as terras e o clima do Tramagal. A ideia era ter um vinho “que cheirasse à nossa terra”. Quem conhece sabe que são terrenos muito pobres, arenosos, em que a vinha tem de sofrer um pouco e isso facilita o trabalho do enólogo porque, afirma, isso ajuda a conseguir uva de muito boa qualidade.
“Temos um vinho com uma única casta, Alicante Boushet [de origem francesa, mas que se adapta muito bem a Portugal], que é muito polivalente. Pode fazer vinhos mais elegantes e finos. Fomos para as barricas fazer provas e chegamos à conclusão que a Alicante Boushet era a que melhor se enquadrava nesta ideia”, explicou Nuno Falcão Rodrigues.
Nuno Falcão Rodrigues apresenta o "Raízes"
O nome
Com esta ideia a andar o nome “Raízes”, explicou o enólogo, tem a ver com aquilo que têm defendido que é “as nossas ligações à terra, nesse sentido figurado, das coisas que nos prendem aqui. Sou um apaixonado por Abrantes, a minha mulher é uma lisboeta que hoje já não trocava Abrantes pela terra natal. Por isso temos um apego muito grande aquilo que se faz aqui”, revelou Nuno Falcão Rodrigues.
“Raízes” é o puxar por aquilo “que nós fazemos, e temos coisas boas aqui”. O enólogo apontou ao bom azeite desta região como outro produto a valorizar e a “levar lá para fora”.
Porquê "Raízes"?
A vinificação
Escolhida a casta única Alicante Bouschet havia, do ponto de vista técnico, o processo de vinificação.
Nuno Falcão Rodrigues explicou que tem um “desengace total, maceração e fermentação em lagares mecânicos a temperatura controlada, fermentação maloláctica, estagiado em barricas de carvalho francês e americano e filtração.
Naquilo que são as análises químicas, apresenta uma acidez de 5,6 g/l, um teor de Alcool de 14,8% e um pH de 3,53.
Como sugestão de serviço por parte do enólogo, a temperatura ideal deve apontar aos 17 graus e na longevidade a sugestão é consumir já ou guardar até ao final de 2028.
Nuno Falcão Rodrigues apresenta a ficha técnica
A comercialização
O “Raízes” é mais um vinho da marca Casal da Coelheira que inicialmente foi concebido para a Casa Chef Victor Felisberto.
Quando, há coisa de uma semana, os dois empresários abordaram a comercialização, entre o restaurante e adega, o Chef Victor Felisberto disse a Nuno Falcão que não pretendia a exclusividade, abrindo as portas à venda para qualquer pessoa ou qualquer restaurante.
Aliás, Victor Felisberto, revelou que uma caixa já ia a caminho de Inglaterra.
No que diz respeito a concursos, Nuno Falcão Rodrigues, frisou que ainda há afinações a fazer, trata-se de um vinho muito novo, que está em estreia em maio de 2021.
Nuno Falcão Rodrigues explica que o vinho não será exclusivo da Casa Chef Victor Felisberto
O desafio
Quase no final da apresentação, e antes da degustação do “Raízes” e dos pratos concebidos pelo Chef Victor Felisberto foi feito o desafio a ambos. Este vinho pode acompanhar o quê? E que pratos podem acompanhar o vinho “Raízes”?
Nuno Falcão Rodrigues gracejou com a pergunta. Se na ficha deste novo vinho se aponta como referencial queijo e carnes vermelhas. No entanto, o enólogo destacou da Casa Chef Victor Felisberto “um naco de novilho, feito a baixa temperatura que acho delicioso. Acho que este prato é o cartão de visita desta casa”, revelou o enólogo do Casal da Coelheira.
Victor Felisberto disse que como é mais ambicioso, neste aspeto, tem vários pratos a sugerir para fazer a ligação com o “Raízes”. E indicou que há “muita comida de forno que eu faço. O cachaço, o naco, as perdizes, que foi uma receita recuperada da zona, vão bem com este vinho”. E depois fez a apreciação ao dizer que este é um vinho muito amplo porque o forno de lenha é muito específico. Indica o Chef que deixa aromas e sabores muito específicos nas carnes. “Não é o mesmo que grelhar uma carne ou cozer num forno convetor. Este vinho acompanha bem com qualquer prato de forno”.
Desafio: O Raízes pode acompanhar que tipo de gastronomia
E depois o Chef aponta à mesa onde estão os queijos, os enchidos e, por exemplo, o cachaço cozido a baixa temperatura no forno a lenha. Ou seja, o ideal para poder fazer a prova do “Raízes”: O vinho Casal da Coelheira para a Casa Chef Victor Felisberto.
Dois anos depois a ideia de parceria nasceu e já pode ser degustada.
E caberá nesta ideia um branco “Raízes”? “Já pensámos nisso”.
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