Um manto de espuma branca com cerca de meio metro cobriu esta quarta-feira o rio Tejo na zona de Abrantes, junto à queda de água do açude insuflável, num cenário descrito como “dantesco” pelo proTEJO e como “assustador” pelo município.
“Ando nisto há mais de três anos e este é um cenário dantesco e nunca visto”, disse à Lusa Arlindo Marques, dirigente do Movimento pelo Tejo – proTEJO, que neste período tem registado e denunciado episódios de poluição no rio, partilhando-os na internet.
O ambientalista sublinhou que a “água castanha” e o “manto de espuma da morte” que cobria esta manhã uma extensa parte das águas na zona de Abrantes constituíam “um dos piores cenários” jamais registados neste troço do maior rio ibérico.
“Parece o cenário de um filme, tanta espuma que mal deixa ver a água”, sublinhou, lamentando a continuação de “gravíssimos problemas ambientais, sociais e económicos”.
O ambientalista destacou “a indignação e o desespero dos pescadores” e de outros setores de atividade, referindo que, com as águas nestas condições, os peixes não vão entrar no estuário e subir o Tejo.
“Não há peixe que sobreviva a isto e os pescadores, os restaurantes e outros setores do turismo acumulam prejuízos e antecipam mais um desastre para a época da desova que se avizinha”, observou.
Contactado pela Lusa, o vereador do Ambiente na Câmara de Abrantes, Manuel Valamatos, disse ter sido surpreendido por um “nível de poluição visual brutal”, uma situação “assustadora” e “acima de todos os parâmetros” ali registados.
“Não temos informação da origem”, observou, referindo que a Agência Portuguesa do Ambiente “esteve esta manhã no local a recolher amostras da água”, aguardando a autarquia por mais informações das entidades competentes.
Também contactado pela Lusa, o Ministério do Ambiente disse que a tutela está consciente da situação e continua a acompanhar “de forma muito intensa tudo o que se passa no rio Tejo”.
Arlindo Marques especificou, depois de percorrer outras zonas, que é da zona de Vila Velha de Ródão (distrito de Castelo Branco) para sul que se nota esta poluição: a montante dessa zona, referiu, as águas estão límpidas, mas “para baixo [a jusante] das fábricas lá instaladas, a água vem castanha e corre para Lisboa”.
“Hoje é mais um dia negro para a história da poluição no rio Tejo”, vincou o ambientalista.
O dirigente do proTEJO disse ainda que “novas ações de protesto e manifestações” poderão ocorrer, depois da reunião de trabalho que o movimento ambientalista tem agendada para o dia 24 de fevereiro.
“Alguém tem de pôr mão nisto, seja o Presidente da República, seja o Governo, porque, por este caminho, qualquer dia não há vida no rio”, apelou.
Lusa
Fotos de Arlindo Marques