Seja-me permitida, para contextualizar, uma pequena reflexão prévia, nos conturbados e confinados dias que vivemos, sobre a impossibilidade, ou não, de arquitectar, desejar, alimentar, sequer, qualquer iniciativa no que à comunicação e partilha de afectos diz respeito!
Há quarenta anos, fervilhavam ideias que traziam dentro uma vontade irreprimível de querer conviver, partilhar experiências, tudo alicerçado na convicção de que, viver por estas bandas era o ideal, mas em partilhado grupo.
Sobravam vontade e ideias, mas faltavam os meios para concretizá-las.
Acabado de chegar da grande cidade, tive a felicidade de tropeçar numa revolucionária maquineta que ali para as bandas do Ciclo acudia pelo nome de "Offset". Abreviando, diria que ficavam para trás os velhos "stencil" de cera, pacientemente rasgados por estiletes e a poder de infinita paciência e que faziam multiplicar uma incipiente vontade de comunicar que, Abril, ainda fumegante, viera incendiar. Recordo, com emoção, o jornalinho "Tempo de Agir", editado ainda no Quartel de Santa Margarida...
Adiante. Em Abril de 1979, nascia a "ânimo", para "tornar os dias mais leves" e promover "o intercâmbio socio-cultural entre os concelhos de Abrantes, Mação, Gavião, Sardoal e Constância. Um verdadeiro Grémio da Lavoura, como ao tempo dizíamos.
É neste contexto da grande vontade de lançar mão de todos os instrumentos que tornassem possível a comunicação entre todos os que viviam por aqui, animados pela grande vontade de fazermos das tripas coração, que entendo tudo o que seguiu depois.
A cereja em cima do bolo foi sem dúvida a RÁDIO. Ela, mais do que qualquer dos meios até então existentes, fazia-nos entrar na casa das pessoas, não por causa da RÁDIO, mas por causa das pessoas. A RÁDIO, como tudo, hoje e sempre - mails, blogs, telemóveis, Facebook e similares com Messenger e vídeo chamadas - mais do que um fim, um meio, mais do que uma moda um MODO DE MUDAR.
É por isso que, no hoje dos dias, me pergunto: COMO e QUEM nos DEVOLVE o ânimo para continuarmos a acreditar que, só juntos, podemos "tornar os dias mais leves" se não podemos sair de casa nem dar um abraço, sequer sorrir porque uma máscara nos esconde a face?!
Será que a RÁDIO, tal como há quarenta anos, pode trazer de volta a nossa própria VOZ?! Ser a VOZ das nossas confinadas e desanimadas VOZES?!
Se a minha voz puder ajudar...
António Colaço