Já lá vão cerca de 40 anos quando me iniciei nas lides radiofónicas. Para mim foi um privilégio integrar um projeto que iria transformar radicalmente o panorama radiofónico português. Os meios existentes eram escassos, mas conseguimos dar os passos necessários em direção à consolidação da democracia e da liberdade de expressão. Durante este período foi conseguido captar a audiência da grande maioria da população do nosso concelho e concelhos limítrofes.
Iniciei a minha colaboração na Rádio Antena Livre com um programa que me deu o maior prazer de fazer e “mexeu” nas pessoas, que passados tantos anos, ainda se recordam… foi a “A loja da Pequenada”. Era um programa de duas horas, de cariz infantil, onde os temas eram dirigidos às crianças e tinha a colaboração preciosa da minha filha Margarida e do meu sobrinho João. Havia diversas rubricas que tinham um cunho pedagógico: sobre a música e instrumentos musicais da responsabilidade do Maestro Miguel Borges, sobre livros e a importância da leitura com o Dr. Helder Silvano e a Helena Silva que no final do programa fazia a leitura de uma história, havia também adivinhas, top’s musicais. Ainda semanalmente fazia uma visita a um jardim-escola do nosso concelho e, além disso, tínhamos a participação ao vivo no estúdio e por via telefone de vários jovens. Gostaria de frisar que recebi telefonemas de jovens ouvintes de Castelo Branco e de outras zonas distantes do país. Talvez o que mais destaco neste projeto, foi a reportagem que a RTP levou a cabo, por parte do “Jornalinho”, um programa de António Santos e o Carlos Ribeiro, onde durante uns bons 30 minutos, deram uma ideia da importância do nosso trabalho.
Durante alguns anos este programa foi para o ar aos sábados de manhã. Não me posso esquecer da Fernanda Mendes e do José Batista, que foi o meu técnico de som durante a maior parte dos programas, e também o Carlos Ramos, o Jorge Pequeno e o Carlos Almocim. Grandes técnicos…
“Comunicar é preciso” foi um espaço muito marcante não só para a RAL, como também para mim. As pessoas estavam em primeiro lugar. Eu fazia o pivot de toda a emissão, enquanto o meu amigo António Colaço tinha a parte mais difícil, os exteriores. Eram quatro horas de emissão ao vivo, com a colaboração de João Graça Vieira, Hélder Silvano, Pinheiro Beirão. Também tivemos a colaboração de muitos outros, destaco os saudosos Vítor Falcão, Eduardo Campos e Manuel Casimiro, tivemos ainda a colaboração do Jerónimo Jorge e Estevão Ramos. Uma das particularidades do “Comunicar”, era que, durante a emissão, o António almoçaria na casa de um dos seus entrevistados ou de um dos locais da emissão no exterior e eu almoçava, em simultâneo, no estúdio com a emissão a decorrer. Por aqui passaram muitos nomes da vida política local e nacional, foi um período extraordinário, lembro-me das entrevistas a Ramalho Eanes (na altura Presidente da República Portuguesa), Adelino Gomes (grande comunicador da rádio portuguesa) e diversas personalidades da política portuguesa.
Além destes espaços, dediquei-me também à divulgação musical. Programa “Estrôncio 90”,que passava ao início da noite e tinha como objetivo informar os ouvintes sobre alguma história de grandes grupos musicais internacionais. E com a parceria do Dr. José Heleno, criei um espaço “Noturno” onde divulgávamos poetas e tentando sempre adequar as músicas aos poemas que eu ia lendo. Tivemos muitas críticas favoráveis, destaco a de Carlos Avilez que durante os Festejos de Constância, entrou no ar e teceu comentários muito elogiosos.
Houve outro programa que me deu muito “gozo”, foi um espaço para as tardes de quarta-feira, “O pátio do meio”, dedicado aos jovens do secundário, com um cariz bastante informal. Estavam no estúdio comigo jovens estudantes, onde falávamos de uma forma aberta, assuntos que os interessavam deste a música, sociedade e outros. Destaco o repórter de exterior, o Ricardo Beirão (na altura um jovem). Tudo na altura era efetuado em direto.
Gostaria de realçar alguns nomes que me recordo, que foram muito importantes para o êxito da estação: Augusto Martins, Vítor Almeida, António Esteves. De momento não me vem há memória outros programas em que participei mas foram decerto mais alguns, mas uma certeza tenho que esta experiência contribuiu muito para o meu desenvolvimento cultural e social.
Um bem-haja…
Rui Cabral