As chuvas de março trouxeram algum alívio à agricultura algarvia, repondo água nos solos para as culturas de sequeiro e evitando a rega no regadio, mas a situação mantém-se “preocupante”, disse à Lusa o diretor regional de Agricultura.
Segundo Pedro Valadas Monteiro, apesar de a pluviosidade registada este mês estar acima da média na região, a situação “mantém-se preocupante” e o ano hidrológico ainda está deficitário sendo que, para recuperar, teria de chover em abril e maio como tem chovido em março.
“Do ponto de vista de médio e longo prazo, mantém-se praticamente tudo igual, a única coisa é que, no imediato, aqueles que tinham culturas de regadio e que estavam a regar, como as árvores de fruto – as laranjeiras, abacates e culturas permanentes de regadio - não regam, porque está a chover e o mês de março tem sido chuvoso”, afirmou.
De acordo com o diretor regional de Agricultura e Pescas, a média de precipitação no ano hidrológico, que começa a 01 outubro, são 600 milímetros. No entanto, até 21 de março, no Algarve, esse valor rondava os 250 milímetros, ainda "muito longe dos 600”, o que significa que, apesar de algum “desafogo”, já “não será possível recuperar passivo”.
Nesse sentido, reiterou, as chuvas de março beneficiam, sobretudo, as culturas de regadio, possibilitando que “se deixe de regar e se poupe nos custos de produção” para assegurar a rega, enquanto a decisão de avançar ou não com as culturas de primavera continua a ser “uma interrogação”.
Embora o valor acumulado da precipitação esteja acima da média de referência da série cronológica utilizada - que vai desde 1971 até 2000 -, e este mês, comparativamente com os outros meses de março desta série, “esteja acima da média”, o impacto nas reservas “é baixo” porque os solos “ainda não estão saturados e a água superficial não chega às barragens”, observou.
Ainda assim, o impacto das chuvas caídas em março é “bom” e vai “encher o reservatório” para algumas “culturas que estavam no terreno, como as de outono e inverno” ou as “de sequeiro que conseguiram sobreviver até agora”, indicou Pedro Monteiro, frisando que, “muitas delas, nomeadamente, de cereais, não vingaram porque não havia água” e essas já não recuperam.
“Para as culturas regadas, os agricultores deixaram de regar no mês de março, porque os valores de precipitação que caíram são suficientes para não se fazer rega nenhuma, e por outro lado poderão aguentar mais duas a três semanas, dependente da zona do Algarve, porque no centro e no sotavento [leste] caiu mais água do que na zona do barlavento [oeste]”, acrescentou.
As limitações à rega que condicionam a utilização da água da barragem da Bravura, em Lagos, “mantêm-se”, porque essa albufeira “apenas teve encaixe de 300.000 metros cúbicos”, o que representa um crescimento de 1,2% relativamente às reservas que existiam antes de março, exemplificou.
Devido à seca em Portugal continental, no passado dia 01 de fevereiro o Governo decretou limites à produção de energia em várias barragens e suspendeu a utilização da água da barragem da Bravura para rega.
Lusa