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Igreja: Comissão independente recebeu 512 testemunhos validados

13/02/2023 às 11:05

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica recebeu 512 testemunhos validados relativos a 4.815 vítimas desde que iniciou funções em janeiro de 2022, anunciou hoje o coordenador Pedro Strecht.

Na apresentação do relatório final, que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Pedro Strecht afirmou que “será difícil que, a partir de agora, tudo fique igual” em relação aos abusos sexuais cometidos contra crianças no seio da igreja, em Portugal.

Revelou que a comissão validou 512 testemunhos de 564 recebidos no total, um número que permite chegar a um número total de vítimas mais extenso e que é de 4.815 crianças, tendo Pedro Strecht mencionado que “não é possível quantificar o número total de crianças vítimas”, uma vez que o contacto com a comissão era voluntário.

Referiu que a média de idade atual das vítimas é de 52 anos, “mais baixa do que noutras comissões” e que em 20% dos casos as pessoas têm hoje cerca de 40 anos.

Segundo Pedro Strecht, a maior parte das vítimas são do sexo masculino (52%), em 32% dos casos têm grau de literacia ao nível da literatura e, à época dos abusos, “eram todos estudantes do primeiro e segundo ciclo”.

“Há casos em todos os distritos”, revelou o responsável, especificando que Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Leiria são os cinco distritos com mais casos, por ordem decrescente.

Segundo Pedro Strecht, a incidência nestes distritos explica-se, em parte, pela existência de seminários ou outras instituições religiosas.

Acrescentou que os abusos aconteceram sobretudo, e também por ordem decrescente, em seminários, colégios internos, confessionários, sacristia ou a casa do padre, havendo igualmente registo de casos no seio dos agrupamentos de escuteiros.

“Nos testemunhos estão incluídos todos os crimes previstos na Lei Penal portuguesa”, referiu, sublinhando que predominam os abusos continuados.

Em quase metade do total dos casos (48%), as vítimas só revelaram pela primeira vez os abusos de que sofreram quando contactaram a comissão pela primeira vez.

“Tenho 71 anos, mas nunca esqueci ou esquecerei”, disse uma das vítimas, citada por Pedro Strecht.

O coordenador referiu que a maior parte das vítimas acabou por afastar-se da igreja, entendendo que “não há reparação possível”, mas que espera que a igreja e os abusadores peçam desculpa publicamente.

Pedro Strecht referiu ainda que no final do relatório há uma série de recomendações para a igreja, mas também para a sociedade em geral “para que nada fique igual”.

Os casos de abusos sexuais revelados ao longo de 2022 abalaram a Igreja e a própria sociedade portuguesa, à imagem do que tinha ocorrido com iniciativas similares em outros países, com alegados casos de encobrimento pela hierarquia religiosa a motivarem pedidos de desculpa, num ano em que a Igreja se vê agora envolvida também em controvérsia, com a organização da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa.

Hoje será conhecida a primeira reação da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), presidida pelo bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, e para 03 de março foi já convocada uma assembleia plenária extraordinária da CEP para analisar o relatório.

Lusa

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Palavras chave:
Igreja Abusos
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