A Brigada Mecanizada assinalou 40 anos com uma cerimónia que evocou ex-combatentes e atuais militares. As missões internacionais são motivo de orgulho, mas o apoio dado às populações, nomeadamente nos incêndios, também é: "Sabemos que conquistámos o coração dos portugueses pela nossa eficácia e pela atuação desinteressada." O Chefe de Estado Maior do Exército levou um pedido para "modernizar a infantaria".
Despediram-se da família para servir o nosso país em África, na Guerra do Ultramar. Foram 13 anos. Muitos não voltaram. João Monteiro voltou ferido. Diz que deu "um pouco" da sua vida. Por lá ficaram alguns “camaradas” que “deram mais do que um pouco, deram a sua vida. Sacrificaram-se e morreram lá”.
O tempo passou mas, para João Monteiro, “ainda mexe muito, quer com o coração quer com a moral dos ex-combatentes”. As memórias surgem, mais uma vez. Agora porque os ex-combatentes foram homenageados na cerimónia que marcou os 40 anos da Brigada Mecanizada de Sta. Margarida, em Constância, um campo militar onde vivem 1500 pessoas, entre militares e respetivas famílias.
Celebrar 40 anos de existência da Brigada Mecanizada faz-nos recuar no tempo. No primeiro dia do ano de 1978, a publicação do Decreto de Lei 91 determinou a criação da 1ª Brigada Mista Independente (BMI). Desde 2006 que a BMI é a Brigada Mecanizada (BrigMec), "elemento central das forças pesadas do Exército português, na qual convivem diferentes estágios de modernidade" e que tem o seu expoente máximo nos carros de combate.
O General Henrique Garcia, primeiro Comandante da BrigMec num tempo em que esta ainda era BMI, voltou a esta que também é a sua “casa” para assistir à homenagem aos ex-combatentes portugueses com a inauguração de um monumento que pretende evocar os feitos do passado e presente e os que ainda estão por vir. Este foi o primeiro momento da cerimónia do aniversário, a 6 de abril, um dia que ameaçou chuva durante toda a manhã.
Os militares juram servir Portugal e os portugueses. Por essa razão o Brigadeiro General Eduardo Mendes Ferrão, comandante da BrigMec, nota a presença do Chefe de Estado Maior do Exército, General Frederico Rovisco Duarte, nesta cerimónia, como “sinal de inequívoco apoio e elevado estímulo para servir mais e melhor o exército, Portugal e os portugueses”.
À chegada dos autocarros com os convidados à pista de aviação, pelotões de militares estão em parada. Na tribuna ficam os ex-combatentes e respetivos familiares, assim como entidades convidadas. Entre elas, os autarcas Maria do Céu Albuquerque, presidente da Câmara Municipal de Abrantes, e Sérgio Oliveira, presidente da Câmara de Constância.
Os militares tomam a posição de sentido e fazem continência, levantam-se os restantes e, devendo “descobrir os que se encontrem com a cabeça coberta”, cantam em uníssono, militares e civis, “A Portuguesa”.
Ouve-se a “corneta” do Exército, toma a palavra o Comandante da BrigMec. Uma primeira referência é para Constância, onde está o campo militar, para assinalar os protocolos assinados com o município, que contribuem para "promover o concelho, melhorar as condições de vida dos munícipes e da família militar e afirmar como ativo estratégico a nível regional e local".
No balanço das atividades, as palavras mais sentidas do comandante da BrigMec terão sido para os operacionais que estão no teatro de operações do Iraque. Oficiais, sargentos e praças que "estão, de um modo discreto, a desempenhar um trabalho excecional, assegurando a missão de apoio de formação e treino das Iraq Security Forces". O comandante não hesita nos elogios: "São o melhor de nós, que erguem bem alto o nome de Portugal".
Se 2017 foi um ano "marcado por agravadas dificuldades e constrangimentos tanto de efetivos como de ordem material e financeira, a que a Brigada deu cabal e oportuna execução a um conjunto de diversificas tarefas" (passando por Espanha e por Timor), 2018 é um ano em que voltará a ser marcado por missões internacionais, incluindo no Afeganistão. Para que estas missões tenham sucesso, fica o recado: é preciso "modernizar a infantaria para que satisfaça os serviços NATO".
Solicitados a intervir em missões para fazer a paz e contribuir para a estabilidade das populações de países nos cinco continentes, o Brigadeiro General Eduardo Mendes Ferrão recorda que também tiveram que fazer face à "tragédia dos incêndios", um “infortúnio” que “atingiu de forma tão dura os portugueses”. "Sabemos que conquistámos o seu coração pela nossa eficácia e pela atuação desinteressada, pela proximidade que conseguimos estabelecer com as pessoas e com instituições. Sentimo-nos recompensados apenas pelo bem que conseguimos fazer."
A cerimónia incluiu ainda a condecoração de militares e civis com medalhas que pretendem galardoar os “serviços de caráter militar relevantes”, “militares que revelem excessivas qualidades e virtudes militares”, os “militares ou civis que, no âmbito técnico-profissional, revelem elevada competência” e “militares com participação em operações militares ou tenham desempenhado uma comissão nas expedições ultramarinas”. Em comum, os homenageados referem a importância deste reconhecimento para a sua carreira. A 1º Sargento Ana Pinho, galardoada com a Medalha de Mérito Militar, a única mulher no conjunto de seis homens com a mesma medalha, assegura: “Não me sinto diferente por ser mulher, sinto-me militar.”
A cerimónia terminou com o desfile das tropas em parada a prestar continência ao Chefe do Estado Maior do Exército, seguidas pelos carros de combate, destacando-se os Leopard 2a6 e os M60. Apesar da ameaça de mau tempo, tudo decorreu sem chuva, que começou a cair no exato momento em que foi servido o almoço. Parecia que a organização militar chegava ao ponto de conseguir controlar as condições atmosféricas.
Texto: Elsa Custódio, aluna de Comunicação Social da ESTA
Fotos: Alunos de Comunicação Social da ESTA