Em vésperas das negociações entre líderes internacionais na cimeira climática COP26, que começa no domingo em Glasgow, Escócia, os planos para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) deixam claro o impacto no quotidiano.
A estratégia de descarbonização dos países ocidentais até 2050 depende de transformações na economia e nas indústrias, mas também no quotidiano dos cidadãos, que terão de mudar hábitos, investir financeiramente e potencialmente pagar mais impostos.
TRANSPORTES
Segundo a Agência Internacional de Energia IEA), os transportes, sobretudo rodoviários, são responsáveis por 25% das emissões mundiais de carbono. Graças à maior oferta de veículos elétricos, os Governos estão a acelerar a transição. Já no fim desta década, em 2030, vão deixar de ser vendidos automóveis ligeiros com motor de combustão interna no Reino Unido (2035 na União Europeia) e todos terão de ter emissões zero. Embora os custos de funcionamento e manutenção sejam mais baixos, o preço inicial de um veículo elétrico ainda é mais elevado do que um convencional, demorando alguns anos até o investimento ser amortizado.
ALIMENTAÇÃO
A produção de alimentos é responsável por 26% de todas as emissões de GEE, contribuindo para o aquecimento global, de acordo com um estudo da Universidade de Oxford. Os métodos de agricultura e produção de carne intensivos resultam também em desflorestação e acidificação dos solos. As vacas e ovelhas são os animais com a maior pegada carbónica, tendo em conta a produção de gás metano. Embora não digam explicitamente que as pessoas se devem tornar vegetarianas ou veganas, os cientistas defendem que comer menos carne e adoptar uma dieta baseada em vegetais pode ajudar a combater as alterações climáticas, conclui um estudo do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) da ONU.
ENERGIA
A queima de carvão e gás natural estão a sustentar a recuperação pós-pandemia de covid-19 na Europa, Estados Unidos, Índia e China, que fez disparar o consumo e preços de energia. As centrais que usam combustíveis fósseis continuam a ser essenciais para a atividade económica relativamente às energias renováveis como a eólica, solar e hídrica, mas são também demasiado poluentes. O Reino Unido anunciou que, a partir de 2035, toda a energia do país tem de ser limpa, embora algumas vozes críticas alertem para o risco de dependência e potenciais cortes de eletricidade. Cientistas da Universidade de Leeds sugeriram num estudo que é possível continuar a manter qualidade de vida e reduzir a pobreza sem aumentar o consumo de energia.
CLIMATIZAÇÃO
Aparelhos de ar condicionado representam um encargo duplo para o ambiente: usam gases refrigerantes que contribuem para o aquecimento do planeta, como os hidrofluorcarbonetos, e gastam bastante energia, segundo um relatório da ONU e IEA, que sugere equipamentos e edifícios mais eficientes. No Reino Unido, é o aquecimento das casas que é o problema. O Governo britânico determinou que a partir de 2035 todos os sistemas de aquecimento terão de ser pouco poluentes, proibindo as caldeiras a gás e promovendo o uso de bombas de calor. Mas para qualquer sistema de climatização resultar, seja de calor ou de frio, os edifícios têm de estar bem isolados para não perderem temperatura, o que implica uma construção reforçada ou a adaptação de imóveis antigos. “Resolver a eficiência energética e as normas de construção teria o potencial de melhorar a vida de algumas das pessoas em pior situação e ajudar na mudança para zero emissões”, defende a professora da Universidade de York, Carolyn Snell.
IMPOSTOS
O impacto da transição para a neutralidade carbónica vai depender de como e quando as políticas são desenvolvidas e implementadas. "Alguns planos de ‘carbono zero' serão inevitavelmente mais justos do que outros. Por exemplo, colocar simplesmente um imposto mais alto sobre o uso de combustível fóssil agora, sem outras medidas, aumentará o custo da vida quotidiana da maioria das pessoas”, admite Snell. No entanto, salienta que as políticas ambientais vêm normalmente em pacote e são geralmente implementadas de forma “gradual”, com apoios para ajudar os cidadãos a ajustarem-se às novas normas.
QUOTIDIANO
"Acho que é importante entender que todas as ações são importantes. Por mais pequenas que pareçam, juntas contam. Há muitas coisas que podemos fazer facilmente que fazem a diferença, desde certificarmo-nos de que as nossas casas funcionam de forma eficiente em termos de energia, reduzir o desperdício de alimentos ou encontrar maneiras de reduzir as nossas emissões de carbono no transporte, como usar o autocarro uma vez por semana em vez de conduzir ou trabalhar a partir de casa. Muitas dessas coisas são relativamente fáceis e podem até ter benefícios financeiros”, vinca a académica especialista em políticas ambientais.
Lusa