A Estrada Nacional 2 (EN2) está a impulsionar negócios e projetos turísticos, desde Chaves a Faro, e é cada vez mais procurada por viajantes que atravessam o país de carro, autocaravana, de mota e até a pé.
Do quilómetro zero, em Chaves, partem hoje cerca de 2.000 motas, no âmbito da iniciativa Lés-a-Lés que vai percorrer o país até ao quilómetro 738, em Faro.
Daniel Fernandes percebeu o “potencial” da estrada nacional, abriu o Templo N2 próximo da rotunda onde se encontra o marco zero, em Chaves, e quase que consegue contabilizar todos os viajantes que percorrem a estrada que percorre o país.
À agência Lusa, disse que “são cada vez mais”. Depois do ‘boom’ em 2020, ano em que, por causa da pandemia, muitos portugueses optaram por viajar "cá dentro", em 2021 também há já muita gente a fazer-se à estrada.
O Templo N2 é um espaço dedicado à promoção daquela que é a maior estrada da Europa. Ali é vendido 'merchandising', desde ímanes a camisolas, chapéus ou canecas, alusivas à estrada, são feitas provas de vinhos e funciona um pouco também como um posto de informação sobre o que visitar, onde dormir ou comer ao longo da via.
“Quis criar um espaço conceito onde, acima de tudo, recebemos as pessoas”, salientou Daniel Fernandes.
Depois de criar o Templo N2 em Chaves em 2019, o empresário abriu em dezembro de 2020 uma segunda loja junto do quilómetro 738, em Faro, ligando o “primeiro e o último” concelhos.
Ao quilómetro 72 da EN 2, na Cumieira, Santa Marta de Penaguião, nasceu a “Come na 2” que agrega as valências de gastronomia, vinhos, património e natureza e proporciona experiências como lavar roupa num antigo tanque, trabalhar na vinha ou moldar uma peça de barro.
O responsável, Alberto Tapada, explicou que se trata de um projeto de “base de enoturismo” e ali podem ser provados vinhos das quatro regiões vitivinícolas da região Norte.
À “Come 2” está associado o centro interpretativo “As Idades da Terra”.
“O que podemos vislumbrar, interpretar e visitar neste espaço expositivo tem a ver com fases distintas da terra, desde a formação da terra, com um mapa interpretativo assente na temática da geologia nacional onde estão plasmadas cerca de 50 amostras de rochas que se situam ao longo de toda a N2”, afirmou Alberto Tapada.
Esta é, na sua opinião “uma nova abordagem sobre a via e a riqueza que ela apresenta”.
Ali é ainda possível ver uma coleção de fósseis, vestígios da Idade da Pedra e da época Romana e, no final desta “viagem”, podem ser contempladas peças cerâmicas de todo o país, nomeadamente louça negra como a de Bisalhães que é classificada pela UNESCO, e há ainda amostras de argila recolhidas ao longo da N2.
“Há muitas lojas que hoje funcionam e têm comércio e muitas localidades onde têm turismo derivado à N2”, afirmou o presidente da Câmara de Faro, Rogério Bacalhau.
O autarca subiu do Algarve até Trás-os-Montes para participar no Lés-a-Lés e salientou que, “associado à EN2, criou-se uma economia que, de outra forma, não era possível”.
“Todos os dias, temos gente em cima da rotunda a tirar fotografias e, portanto, isso potenciou certamente o turismo em Faro, mas não só em Faro. Chaves e Faro, sendo o início e o fim, são as cidades mais beneficiadas, mas o Interior também ganhou muito com a N2 e a visibilidade que ela tem”, salientou Rogério Bacalhau.
Nuno Vaz, presidente da Câmara de Chaves, considerou que “esta estrada tem uma função importante de mobilidade”, mas “tem ganho uma crescente e muito importante relevância turística”.
“Nós precisámos agora é de fazer ainda mais. Todos os concelhos que têm esta interação com a EN e, particularmente as duas portas de entrada ou chegada, temos que ainda dar mais contributos para que a EN2 não seja um produto circunscrito, que não seja um epifenómeno, mas seja verdadeiramente algo como a ‘Route’ 66”.
A EN2 é muitas vezes comparada com a ‘Route’ 66, porque, à semelhança do que acontece com a estrada norte-americana, também rasga o país de uma ponta à outra.
A N2 está a contribuir para economia, hotelaria, restauração e comércio e, segundo o autarca, a edição 2021 do Lés-a-Lés pode servir de “contágio positivo” para a retoma da economia que considera ser “absolutamente necessária”.
Durante os dois dias que antecederam a partida, a hotelaria em Chaves (com 2.000 camas) esteve praticamente esgotada por causa da iniciativa que leva os ‘motares’ à descoberta do país.
A estrada portuguesa, que este ano assinala o 76.º aniversário, está a ser impulsionada pela Associação de Municípios da EN2, que criou a rota da N2 que atravessa 35 concelhos e paisagens tão distintas como as serras a Norte, as vinhas no Douro, as planícies no Alentejo e as praias no Algarve.
Lusa