A Associação das Rotas de Mação tem no ano de 2022 uma mão-cheia de novas apostas e parcerias. Depois de um 2021 com homologação de algumas rotas e preparação de outras, a pandemia impediu a realização de um conjunto de atividades que a associação tinha previsto para o ano que passou. Seja como for, em 2022 há uma nova parceria com o Clube Orientação e Aventura (COA) de Abrantes para avançar nesta área, haverá uma aposta no BTT e na criação de rotas para quem gosta de bicicletas todo-o-terreno, haverá uma pista de orientação no Agrupamento de Escolas Verde Horizonte para os mais novos e Leonel Mourato, presidente da Associação das Rotas de Mação, não deixa na gaveta a ideia de recolocar na Linha da Beira Baixa, entre o Entroncamento e Vila Velha de Ródão, uma locomotiva a vapor.
Jerónimo Belo Jorge
Depois de um 2021 com a homologação de algumas das Rotas de Mação, o que é que a Associação prepara para este ano de 2022?
As Rotas foram criadas, oficialmente, há um ano. Ainda somos uns bebés. O nosso plano de atividades para 2022 baseia-se sobretudo em quatro pontos fundamentais. As caminhadas, é este o nosso core-business, é o nosso foco principal, pois temos cinco percursos homologados e mais cinco na fase final de homologação, em Amendoa (PRMAC6), Casas da Ribeira (PRMAC7), Envendos (PRMAC8), Penhascoso (PRMAC9) e Cardigos (PRMAC10). Já estamos a finalizar a sinalização destes percursos.
Vamos também dar início ao projeto do BTT, uma área para a qual temos muitas solicitações. E Mação sendo um concelho com 400 km’s quadrados é muito disponível para isso. Não sei se não será de todos os concelhos do Ribatejo aquele que tem o relevo mais acentuado. Aliás, temos o Bando dos Santos e o Bando de Codes que são o segundo e terceiro ponto mais alto do distrito.
Vamos continuar a desenvolver o geocaching. É uma atividade de natureza pura e é uma atividade muito querida no concelho. Temos muitos jogadores no concelho de Mação.
Vamos desenvolver a orientação e vamos ter uma parceria com o Clube Orientação e Aventura (COA) de Abrantes. É um tema que já queríamos trazer a Mação há algum tempo. É um tema que a Câmara Municipal de Mação acolheu de braços abertos. É um tema que o agrupamento de escolas acolheu de braços abertos.
Também há um outro tema que me é querido, a mim e às Rotas de Mação, e que é o comboio a vapor na Linha da Beira Baixa. Não posso desenvolver muito este tema porque questões éticas porque tem muitas envolvências políticas e há muitos passos a dar até se chegar lá, mas estamos cientes e crentes que conseguiremos trazer ou dar um empurrão para ter um comboio a vapor na Linha da Beira Baixa.
"Nós nascemos do fogo. Nós somos 'os filhos do fogo'...”
Mas este comboio a vapor já foi levado à Assembleia Intermunicipal do Médio Tejo pelos deputados do concelho de Mação José António Almeida (PSD) e João Filipe (PS)…
… O projeto não está parado. Esteve em stand by por causa das eleições autárquicas. Eu estive envolvido no projeto do comboio da Linha do Douro, conheço os meandros do processo. Existe uma locomotiva no Entroncamento, que terá se ser recuperada, naturalmente. O investimento é elevado, cerca de um milhão de euros. Porquê? Porque a máquina tem de ser transformada, não pode funcionar a carvão, tem de ser modificada para diesel. Tem de ir a Inglaterra para ser modificada. Por isso é que é um projeto que tem de envolver a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, as autarquias, a CP, provavelmente o governo, operadores turísticos, fundos comunitários. Sabemos que é difícil, mas sabemos que é possível.
E como é que se liga este “comboio a vapor turístico” às Rotas de Mação?
Tudo o que seja trazer gente para o interior para nós tem valor. Tudo o que seja tornar um interior atraente, tudo o que seja mostrar o que são os nossos territórios para nós tem valor. Imaginemos um rio. O rio só fica com mais água se os afluentes trouxerem água. Isto é a mesma coisa. Para vender um produto tenho de dar a conhecer o produto por isso, tenho de as trazer cá. Este comboio será mais uma atividade que nós, Médio Tejo, poderá oferecer. E aqui não é só Mação a ganhar. Ganha o Entroncamento, Constância, Abrantes, Mação, Gavião, Nisa e Vila Velha de Ródão. São todos estes concelhos a ser envolvidos. A próxima Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo e a da Beira Baixa terão de ser chamadas a este projeto.
E a ideia é trazer pessoas às Rotas. O projeto aponta a 14 Rotas no concelho, quatro estão homologadas, mais cinco estão a caminho. Quando é que as Rotas estarão todas homologadas?
Em princípio 2023. A pandemia também nos afetou. Não é fácil trabalhar quando não se podem organizar reuniões, grupos. As próprias eleições vieram abrandar algumas iniciativas porque poderiam ser conotadas politicamente. Mas importa não esquecer que a Associação Rotas de Mação é uma entidade apolítica, tem gente de todos os quadrantes.
As Rotas começaram com as caminhadas, mas a pandemia e, nalguns casos, o mau tempo suspendeu algumas. Mas neste ideia do BTT como é que vão integrar as bicicletas todo-o-terreno nas Rotas?
Nós temos em Mação vários clubes de BTT. O S. Miguel Bikes, o S. José das Matas, o Penhascoso. E o que a Associação fez foi falar com todos eles para apresentar o projeto. E o que vai acontecer é que vão existir rotas específicas para o BTT, há sinalética específica para o BTT. O que se pode fazer é aproveitar as rotas pedestres e incluir as mesmas dentro do BTT. Há ali sinergias e caminhos comuns. Este plano foi apresentado à Câmara de Mação para que não haja sobreposição de atividades. A autarquia tem um plano de atividades e a Associação assume as atividades externas. Está tudo articulado. E neste sentido a partir de 2022 vamos ter trabalhos de BTT e vamos ter trabalhos pedestres. Até ao final do ano teremos uma rota, ou mais, marcadas para as bicicletas. O Ivo Martins, praticante de BTT, está a trabalhar connosco e queremos ver se em 2023, em 2022 será complicado, fazemos já um grande prémio de Mação em BTT. É um sonho. É um objetivo.
"Com vontade e amor consegue-se tudo"
E depois há a Orientação. E é aqui que entra o COA. É mais um grande desafio?
Nas Rotas pretendemos trazer algumas modalidades não muito comuns no dia a dia. A Orientação é um dos desportos com mais praticantes em todo o mundo. O que pretendemos é montar dois circuitos fixos de Orientação. Um na Eb1, escola primária de Mação, e outro na EB2/3, a escola secundária de Mação. Serão circuitos fixos em que as crianças poderão praticar. Queremos que eles percebam o que é a Orientação.
E entre a criação e marcação das Rotas, este ano vai ter muito trabalho, diria, administrativo com a operacionalização das parcerias e projetos no BTT e na Orientação?
O caminho é para a frente. Ponto Final. Com vontade e amor consegue-se tudo. Aquilo que estamos a desenvolver em Mação é assim: juntamos um conjunto de pessoas, têm muita vontade, empenho e dedicação. A partir daí temos as condições todas para fazer uma boa “sopa”. As Rotas tiveram alguma dificuldade. As pessoas não percebiam quem eram aqueles tipos que andavam ali de mochila às costas…
… Foi difícil as pessoas autorizarem a criar os circuitos, a colocar os marcos…
Não. Não digo isso. Foi difícil perceber quem nós éramos, o que queríamos e para onde queríamos ir. Porque dizer a uma pessoa quem éramos e o que queríamos toda a gente “nos largava os cães”. Nós tivemos situações caricatas. Nós dizíamos: queremos passar aqui com um percurso. E a resposta era tudo bem. Mas quando dizíamos queremos por uma placa a resposta passada a “nem pensar. Aí não”. Agora já não. As pessoas entenderam e agora estão connosco.
E com as caminhadas que já realizaram perceberam que pode ir “gente” às terras?
Exatamente. Este ano (2021) fizemos seis a sete caminhadas que trouxeram mais de 600 pessoas. A última que fizemos foi a noturna, agendada para 1 de novembro, mas adiada por causa do mau tempo para 20 de novembro. E foi muito bom, envolvemos o curso de cozinha do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte e foi muito bom. Tivemos num sábado à noite uma caminhada com 117 pessoas. Não foi fácil, mas até tivemos a colaboração do Padre Amândio que foi connosco, abriu as portas das capelas e andou connosco lá dentro. Foi fantástico.
"Tudo o que seja trazer gente para o interior para nós tem valor"
E a ideia do geopark?
No início, na apresentação da Associação, quando falámos num geoparque, houve um silêncio na sala. Um geopark não vamos conseguir fazê-lo porque implica uma estrutura financeira de outra ordem que a Câmara de Mação não tem. O que poderá ficar previsto, está em cima da mesa, é podermos fazer uma parceria com o Naturtejo. Ou seja, nós temos um terreno contíguo com o Geopark Naturtejo (Vila Velha Ródão e Proença-a-Nova), o próprio Instituto Terra e Memória tem um polo em Mação, e há muita semelhança entre estes territórios. Em Portugal existem cinco geoparques: Macedo Cavaleiros, Arouca, Naturtejo, Serra da Estrela e Açores. O nosso objetivo é que Mação tenha as regras de um geopark, mesmo que não tenha um geopark próprio.
Na questão das parcerias temos uma muito boa. Nós somos reconhecidos pela Microsoft casa-mãe. Somos reconhecidos por eles, nível da filantropia da Microsoft. Nós não sabemos tudo, mas todos nós em conjunto sabemos muito. É esse o nosso segredo. Quando fizemos a parceria com a Microsoft, andámos quase cinco meses a ser “investigados”, o rating, a idoneidade, os estatutos, o registo...
... “Rotas de Mação” é uma marca registada?
Sim. Mas o titular é o Município de Mação. A propriedade é da Câmara de Mação. E através de protocolo cede a marca à Associação das Rotas.
E agora, em 2022, entramos num outro patamar?
Temos de tirar Mação do estigma do concelho que só arde. Nós nascemos do fogo. Nós somos “os filhos do fogo”. É muito difícil fazer uma caminhada em cima de território ardido. E nós fizemos em Cardigos. Fazer caminhadas em levadas e cascatas é muito bonito. Mas fazer uma caminhada com 200 pessoas numa zona que ardeu uma semana antes, onde ainda havia fumo e cinzas no ar, não é para todos. Nós fizemos isso.
E as próximas atividades da associação, quais vão ser?
Estamos a preparar os painéis para os percursos pedestres e iremos iniciar as atividades, de a Covid deixar, na primavera deste ano.
Parceria com o COA criam circuitos de orientação permanentes nas escolas de Mação
José Oliveira, do Clube Orientação e Aventura de Abrantes explicou a parceria que vai ter com a Associação Rotas de Mação. Entre os circuitos nas escolas, para os mais novos, a criação de provas de BTT orientação e a “construção” dos mapas para Orientação pedestre o objetivo é ter mais “gente” a praticar desporto em comunhão com a natureza.
Leonel Mourato e José Oliveira
José Oliveira, o objetivo é criar uma escola de Orientação “dentro” das escolas de Mação?
O objetivo é começar com as escolas. A ideia é “construir” circuitos permanentes em tudo idênticos aos outros. Têm um princípio, terá pontos de passagem e um fim. O estar em permanência permite que, a qualquer momento, os professores possam agarrar nos alunos e colocá-los a praticar orientação. Uma das coisas que se está a perder muito, na infância, é a autonomia. A Orientação permite à criança criar uma autonomia e autoconfiança que permitem desenvolver outras capacidades. A ideia inicial é fazer estes percursos e teremos de dar formação aos professores e depois atividades com as crianças. A formação é feita em dois tipos. Numa primeira fase o COA vai ministrar uma formação não certificada aos professores. Depois os professores, através dos centros de formação escolares têm formações certificadas em colaboração com a Federação Portuguesa de Orientação.
Depois de termos os professores capacitados para fazer as atividades com as crianças, a nossa participação [COA] é também ajudar os docentes a realizar as atividades iniciais. Ajudá-los nas marcações dos circuitos permanentes. Também aqui a Federação tem um programa gratuito no qual a escola se pode inscrever. A Federação fornece as placas próprias para esses circuitos. E também os clubes, como o caso do COA, pode ter estas parcerias com outros clubes.
Mas há também a ideia de levar a Orientação para fora, para as Rotas, para população?
Aqui também há um projeto no seio da Federação, é um projeto que está dentro do IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude) e no plano “Desporto para todos”. Mas há aqui uma dificuldade. Na Orientação precisamos de ter um mapa. Nas escolas estamos alinhados. Depois, fora da escola, teremos a necessidade de ter mapas. Esse mapa, quando for “construído” não nos permite ir para dentro das Rotas. Mas permite-nos fazer um mapa mais amplo do território e incluir as Rotas que já lá estão. Depois é criar os circuitos próprios da Orientação....
... Que pode coincidir com as Rotas ou não?
Sim. Pode coincidir ou não. Imaginemos os pontos de interesse turístico que já integram as Rotas. Na orientação também se pode levar lá as pessoas. A diferença é que nas Rotas utilizamos os trilhos que já lá estão e são marcados com placas. Na Orientação temos um mapa, marcamos certos pontos onde as pessoas têm de ir através do mapa. Depois há evolução das tecnologias que chegaram à Orientação. Há aplicações que podemos utilizar e que nos criam autonomia de marcar pontos sem ter de andar no terreno. As pessoas têm de ter o mapa, é a base da Orientação, mas as tecnologias facilitam a marcação dos percursos, porque podemos fazer isso virtualmente. Colocamos o ponto com georreferenciação e o praticante quando chega a esse local tem a aplicação para fazer o registo em como esteve no local, sem necessidade de controlo presencial.
Torna-se mais fácil levar mais pessoas a praticar atividade física e turismo.
E Mação tem a particularidade de ter terrenos muito diferentes. Tem altitude, floresta, ribeiras, o rio....
Sim. São propícios aos diferentes tipos de orientação. A orientação não é só a pé. Temos o exemplo do BTT....
... tivemos esse exemplo há pouco tempo em Abrantes, Constância e Sardoal, com os campeonatos do mundo de Orientação em BTT?
Sim. Tivemos um Campeonato do Mundo. Mas nós podemos ter o BTT, podemos ter as caminhadas e podemos ter a Orientação. Mação tem condições muito boas. Aliás, já teve uma prova de Orientação. Já tem um mapa feito, embora esteja desatualizado. Tem terrenos com características muito boas para fazer ali muitos projetos.