O Grupo VITA, que acompanha casos de violência sexual na Igreja Católica em Portugal, identificou, no primeiro ano de funcionamento, 105 alegadas vítimas e um leigo que terá cometido crimes sexuais no contexto da Igreja, revelou hoje aquele órgão.
Criado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e tendo entrado em funcionamento em 22 de maio de 2023, o Grupo VITA recebeu neste primeiro ano 485 chamadas telefónicas, as quais “não correspondem exclusivamente a situações de violência sexual no contexto da Igreja”.
Das que estão dentro do objeto do seu trabalho, e nos contactos recebidos através da linha telefónica e do formulário disponível no seu site ou por ‘email’, foram identificadas 105 vítimas de violência sexual e uma pessoa (leigo) que cometeu crimes sexuais no contexto da Igreja”, situação que tinha já sido sinalizada “às entidades penais e canónicas”.
“Esta pessoa foi encaminhada para apoio psicológico para um profissional da bolsa do Grupo VITA”, refere o relatório hoje apresentado em Fátima.
Quanto aos pedidos de ajuda recebidos, foram realizados 64 atendimentos (presenciais ou online) com vítimas de violência sexual, acrescenta o órgão liderado pela psicóloga Rute Agulhas.
De acordo com o documento hoje divulgado, “das 64 pessoas atendidas, verificou-se que cinco eram pessoas adultas que não preenchiam os critérios de adulto vulnerável à data da ocorrência”.
No universo das chamadas telefónicas, 28 respeitavam a situações de violência não relacionadas com a missão do Grupo VITA, nomeadamente “abuso sexual intrafamiliar, violência doméstica”, pelo que “foram encaminhadas para outras entidades”, nomeadamente órgãos policiais ou estruturas de atendimento a vítimas de violência doméstica e/ou sexual.
O relatório indica ainda que de “58 atendimentos efetuados” presencialmente ou online, “a maioria das vítimas (72,5%) recorreu ao Grupo VITA para efeitos de apresentação da sua situação” e 27,5% das situações já haviam sido também sinalizadas à Comissão Independente liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, cuja ação antecedeu a criação do Grupo VITA.
Em termos de caracterização sociodemográfica, a maioria destas vítimas é do sexo masculino (60,3%), todas possuem nacionalidade portuguesa e a idade atual varia entre os 19 e os 75 anos, sendo a média de idades de 53,8 anos.
“Cerca de 37,9% das vítimas estão solteiras, 31% encontram-se numa relação (22,4% casadas e 8,6% em união de facto) e um pouco mais de um quarto encontram-se separadas ou divorciadas” e a maioria (63,7%) refere ter filhos.
Quanto à localização geográfica atual, a região Norte é a que registou um maior número de vítimas (20), seguida de Lisboa e Vale do Tejo (17), Centro (15), Madeira (3), Alentejo (2) e Açores (1).
Quanto às habilitações literárias, 39,6% das vítimas atendidas pelo Grupo VITA têm escolaridade até ao 9.º ano, inclusive, 22,4% têm o ensino secundário concluído e 38% frequentaram o ensino superior (licenciatura, mestrado ou doutoramento).
Quanto à situação profissional, cerca de 50% das vítimas trabalham, aproximadamente 21% encontram-se reformadas e três são estudantes. Cerca de 16% encontram-se desempregadas ou sem ocupação.
Já no que concerne à sua ligação com a religião, mais de metade das vítimas (55,2%) consideram-se católicas.
“Em termos de frequência, cerca de 21% referem participar frequentemente em atos religiosos (…) e 19% fazem-no de forma ocasional (…). Um número de vítimas menos expressivo (10,3%) refere nunca participar em atividades religiosas”.
O Grupo VITA surgiu na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que ao longo de quase um ano validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.
Lusa