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Homenagem: José Alves Jana - o desassossegador - distinguido pelo Rotary de Abrantes

27/04/2022 às 16:42

Deveria ter sido em janeiro, mas a Covid-19 não deixou e a Homenagem ao Profissional do Ano do Rotary Clube de Abrantes foi adiada para abril. E aconteceu na terça-feira, dia 26, num jantar do clube profissional de Abrantes.

Como clube profissional que é, o Rotary pretende com esta ação homenagear todos os profissionais da comunidade. Este ano de 2022 foi novamente educação a área escolhida, mas o clube já percorreram outros caminhos como a saúde, o direto ou o meio empresarial.

Mas como qualquer encontro do Clube Rotário de Abrantes, a noite começa com a saudação às bandeiras (para a qual foram convidados José Alves Jana, Celeste Simão, Leal Neto, Constança Diogo e Maria Estrada) ao que seguiu o jantar e depois o momento da noite com a homenagem ao profissional do ano.

Leal Neto, presidente do Rotary Clube de Abrantes, começou por destacar a homenagem a José Alves Jana. E na explicação recuou no tempo “há 45 anos houve, no Pego, uma homenagem a António Botto. E o Jana disse, naquele momento, estas palavras: quem não conhece a sua terra é um estrangeiro." Este foi o mote para o desenrolar dos motivos que levaram o Clube a escolher José Alves Jana como profissional do ano.

Leal Neto referiu que no Rotary “conhecemos as pessoas por isso fazemos as homenagens a pessoas, para além de ser um bom profissional faça a diferença. Queremos reconhecer o trabalho de Serviço que fez ao longo dos anos.”

Depois apontou ao lema rotário de 2022: "servir para transformar vidas." E nesta palavra “servir” Leal Neto revelou que o seu significado nesta frase será o “altruísmo”.

De seguida apontou que o Jana, como sempre o chamou, “não anda à procura que lhe batam palmas”.

Leal Neto terminou a sua intervenção com a escolha de palavras retiradas da tese de doutoramento do homenageado, mas com uma adaptação pessoal.

Leal Neto, presidente do Rotary Clube de Abrantes

A cerimónia continuou com António Moedas e Francisco Lopes a dizer poemas de António Botto e com José Horta a cantar outro.

No alinhamento foi chamado Joaquim Santos, responsável pela Avenida dos Serviços Profissionais do Rotary Clube de Abrantes, que apresentou o bilhete de identidade de José Alves Jana, nascido em Lisboa coma mãe de lisboeta e o pai natural de Mação. Veio para Abrantes aos 7 anos. Tem uma licenciatura em filosofia com doutoramento também em filosofia.

Foi Chefe dos Escuteiros, desde 1969 sempre muito ligado à comunicação social local, desde 1973 com presença assídua no associativismo, fundador da associação “Palha de Abrantes", tem três livros publicados e muito mais atividade cultural e cívica. E a apresentação do Profissional do Ano terminou com uma frase sua: "O que eu gosto de fazer é ajudar as pessoas a serem capazes.”

José Alves Jana, depois de receber a homenagem, fez o agradecimento a todos os rotários por o terem colocado na “situação doce, mas desconfortável”.

Depois avançou para um desfolhar das folhas que escreveu para o momento. Recusou falar da guerra, da pandemia, das eleições em França, com a nota direta que “não é destes temas que quero falar”. Logo de seguida lançou-se numa dúvida sem futurologia: “Não faço ideia de como será o mundo que as minhas netas vão viver. Seja qual for o futuro os grandes valores humanos vão continuar presentes. Solidariedade. Justiça. Sabedoria.”

José Alves Jana apontou depois ao trabalho de quase 41 anos do Rotary. E notou algumas das suas atividades como os cursos de liderança, bolsas de estudo, palestras e o combate à Poliomielite. E pode ainda juntar-se os clubes juniores, o Interact e o Rotaract.

José Alves Jana apontou a pena às suas memórias de como e quando começou a dar aulas. Apontou a 1973, ano de início da carreira docente como professor de Geografia e História de Portugal e depois também de Português na nova Escola de Sardoal. Recordou os seus 120 alunos no primeiro ano como professor. “Ainda não tinha um ano de casa entrei como professor e saí como gestor da escola”, fazendo uma referência a ter sido escolhido para dirigir aquela escola. Depois continuou a vida docente. Deixou a Geografia e a História e passou a lecionar Português ao terceiro ciclo na Escola Industrial de Abrantes.

Depois da licenciatura foi colocado no grupo de Filosofia, em Abrantes, no liceu, antes ainda de ter ido para estágio em Portalegre. Voltou a Abrantes para lecionar Sociologia, Psicologia e Psicossociologia. Foi eleito vereador e trabalhou com jovens.

José Alves Jana continuou a virar páginas da sua vida e chegou à conclusão que “tive de lecionar 20 disciplinas na minha vida de professor (...) sempre com a noção de que as minhas aulas não eram para mim, eram para os meus alunos.”

Depois fitou a vereadora Celeste Simão, presente na sessão de homenagem, para referir que “no concelho de Abrantes os resultados escolares dos alunos deveria merecer a atenção pública e privada. Como e que ainda há queixas de que as aulas continuam a ser expositivas? Eles não estão para nos ouvir.”

A concluir, José Alves Jana, agradeceu a distinção ao Rotary Clube de Abrantes e fechou o discurso com a frase “a cidade vai continuar com as marcas que cá teremos deixado, porque nós não estaremos cá.”

José Alves Jana, homenageado

Neste jantar ficou a saber-se que José Alves Jana deixou uma parte da sua biblioteca pessoal à Escola Superior de Tecnologia de Abrantes. Mais tarde o próprio confirmou que doou o seu espólio de títulos de comunicação social à escola superior e outras duas partes da sua biblioteca pessoal foram igualmente doadas à Biblioteca Municipal António Botto e à Biblioteca da Escola Secundária Dr. Manuel Fernandes.

Constança Diogo, presidente do Rotaract
“Isto de falar depois do professor Jana não é fácil porque ele deu-me um curso de ‘como falar em público’ e agora tenho a responsabilidade de falar a seguir a ele. O professor Jana disse que não sabe qual é o futuro para as suas netas. Nem nós que somos mais velhos que as suas netas, mas estamos aqui a trabalhar para o futuro.”

Hália Santos, docente ESTA
"A Escola Superior de Tecnologia de Abrantes” associa-se a esta homenagem. Eu entrei na ESTA ao terceiro ano de existência da escola e o professor Jana já era uma referência na escola. Era ele que desinquietava os alunos."

Maria José, ex-aluna
“Fui das primeiras alunas do professor Jana na escola de Sardoal, tinha 9 10 anos. Sou de ciências, mas ele sempre foi uma referência.”

José Martinho Gaspar, historiador e diretor da revista da “Zahara”
“O Jana meteu-se aqui numa carga de trabalhos porque tudo o que de bom ou mau possa acontecer é ‘culpa’ dele, porque esteve envolvido em muita coisa. Em cada aula que nós damos os alunos têm de pensar que ganharam alguma coisa senão a aula não serviu para nada. Criamos o Centro de Estudos de História Local e a publicamos a revista Zahara. E vamos daqui a uns tempos fazer a edição 40 da revista.”

Joaquim Candeias da Silva, historiador e um dos homenageados como Profissional do Ano do Rotary
“Estava a pensar desde quando é que conheço o José Eduardo. Era do Correio de Abrantes, jornal muito influente no período pós-25 de Abril.
Era o Dr. Eurico Consciência o diretor quando o Jana subiu as escadas do jornal, pediu um gravador e disse ‘vamos fazer coisas’. Também foi muito ativo no jornal Notícias de Abrantes.
Eu, ele (Jana) e o Eduardo Campos tivemos um papel fundamental em não deixar sair os documentos do arquivo de Abrantes para Santarém. E foi fundamental na Abranfocus, um centro de formação que deu formação a centenas de professores.

Mário Pissarra, professor de Filosofia e colega do Clube de Filosofia
“Conheci o Jana quando ele tinha 10 anos no seminário de Gavião. E destacava-se até pelo tipo de óculos que usava.
Há uma pergunta que a comunidade abrantina deve fazer porque homenagear o professor, é homenagear o jornalista, o animador cultural, o empreendedor de atividades culturais na cidade, nem sempre bem compreendidas. O Jana continua ativo porque só é feliz se estiver a fazer coisas ou a fazer com que alguém faça coisas.”

Cónego Zé da Graça, membro honorário do Rotary
“Olho para um homem inquieto e irrequieto. O sonho dá sentido à nossa própria vida. O homenageado sonhou para o exterior e para o seu interior.
Vejo no Dr. Jana o modelo da Teologia da Libertação. Há um caminho de realização pessoal, mas sempre com o servir à comunidade.”

Francisco Lopes, ex-diretor da Biblioteca António Botto
“Aprendi com ele a falar em público ou pelo menos a perder a vergonha. Tem um defeito que é ser um grande desinquietador.
No Pego houve um grande laboratório cultural em que ele estava. Lembro-me de uma peça de teatro que começou a ser ensaiado em 73, antes do 25 de abril. Era na Igreja que se ensaiava e na igreja que se apresentou ao público. E neste grupo tínhamos grandes discussões porque o verdadeiro sentido da democracia é o desacordo. O desacordo é o mais importante que temos na análise de diferentes perspetivas das coisas.”

Celeste Simão, vereadora Educação Câmara de Abrantes
“Quando cheguei Abrantes conheci o professor Jana que era, foi-me dito, a pessoa indicada para perceber as opções e orientações para a minha formação, enquanto docente.
A imagem que tínhamos do professor Jana era de alguém que fazia parte das vidas de todos.
No momento em que e preciso valorizar a carreira docente, é preciso perceber que não é só o professor que está dentro da sala de aula. Esta é uma homenagem a todos os professores.
Devemos ao Jana, ao Mário Piçarra e ao Nelson Carvalho o Festival de Filosofia de Abrantes. Continuamos a precisar de desassossegar para que haja quem nos venha desassossegar. A comunidade abrantina deve muito ao professor Jana.”

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