A secretária de Estado da Administração Interna disse esta sexta-feira ser “fundamental começar a profissionalização dos corpos de bombeiros”, mantendo a “génese do voluntariado”, para “fazer evoluir o sistema” de proteção civil num “mundo cada vez mais difícil” de defender.
“Nós temos um mundo cada vez mais difícil em termos de riscos e vulnerabilidades e temos de fazer evoluir o sistema de socorro e o sistema de bombeiros que temos no país, mantendo a génese do voluntariado e solidariedade que é tão importante e nos distingue”, afirmou à Lusa Patrícia Gaspar, tendo defendido ser fundamental “começar a profissionalização dos corpos de bombeiros” para “conseguir dar contornos diferentes ao sistema”.
A governante esteve em Mação onde teve lugar a cerimónia de assinatura dos protocolos para a constituição de 122 Equipas de Intervenção Permanente (EIP), compostas por 610 bombeiros profissionais, nas corporações de bombeiros de 95 municípios.
A maioria (110) foram segundas equipas permanentes, 11 foram primeiras equipas e há já um caso, no distrito de Viana do Castelo, de criação de uma terceira equipa permanente. Estes protocolos firmados entre municípios e associações humanitárias de bombeiros, homologadas pela secretária de Estado da Administração Interna, Patrícia Gaspar, visam aumentar o nível de profissionalismo e de resposta na segurança das populações.
Jaime Marta Soares, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, pediu mais respeito para com os bombeiros, que são a base da Proteção Civil do país e disse esperar que os pagamentos destas equipas sejam respeitados para não se criarem mais complicações financeiras nas associações humanitárias que vão receber estas equipas.
Jaime Marta Soares, presidente Liga dos Bombeiros Portugueses
Vasco Estrela, presidente da Câmara de Mação, deixou uma nota de grande preocupação com as terras do interior cada vez com menos pessoas, com menos voluntários nos bombeiros o que pode acarretar uma dificuldade na garantia de proteção das populações envelhecidas e das florestas.
Vasco Estrela, presidente CM Mação
A secretária de Estado da Administração Interna começou por deixar uma palavra para o concelho de Mação, e para o seu presidente, dizendo que desde 2017 (na altura estava na estrutura nacional do Serviço Nacional de Emergência e Proteção Civil) tinha intenção de visitar este concelho.
Patrícia Gaspar, secretária de Estado da Administração Interna
Depois destacou o papel que os Bombeiros têm na base da Proteção Civil, numa altura de muitas mudanças de paradigma e de estratégia na segurança das populações. As mudanças da sociedade, o exemplo da pandemia e ainda os riscos cada vez mais acentuados ligados às alterações climáticas obrigam a pensar a segurança das populações de uma outra forma, onde se enquadra a profissionalização dos bombeiros. E a criação de mais 122 equipas de intervenção permanente segue neste sentido até porque é cada vez mais difícil “chamar voluntários” para os bombeiros.
A secretária de Estado da Administração Interna, que apelou à “autossegurança” dos bombeiros, disse ainda que o dispositivo de combate a incêndios “é o maior de sempre” e que “está em plena força, dando conta de uma “redução de 50% da área ardida face aos últimos dois“, e “menos 43% de incêndios, uma “realidade simpática” e positiva, concluiu.
Patrícia Gaspar, secretária de Estado da Administração Interna
Patrícia Gaspar apontou “quatro vetores fundamentais” neste processo de transformação do sistema. “Cuidar dos nossos espaços, valorizar o espaço florestal, reaprender a gerir o risco, e aprender a modificar comportamentos”, sintetizou.
Patrícia Gaspar disse mesmo que o “mundo está a mudar e os riscos não são os mesmos de há 20 ou 30 anos” e deu o exemplo da Europa por estes dias com incêndios enormes na Turquia e Sardenha e cheias e deslizamentos de terras na Europa central e norte de Itália.
Patrícia Gaspar, secretária de Estado da Administração Interna
E deixou ainda a nota que o Plano de Recuperação e Resiliência vai permitir a aquisição de 80 a 90 viaturas de combate a incêndios florestais para distribuir pelas corporações de bombeiros do país, assim como uma verba de seis milhões de euros para comprar equipamentos de proteção individual.
Depois da cerimónia dos protocolos e a convite do presidente da Câmara de Mação, Vasco Estrela, Patrícia Gaspar esteve na viatura de apoio às operações do Município de Mação onde assistiu a uma explicação sobre o programa McFire e as novas funcionalidades. Trata-se de uma aplicação desenvolvida, ao longo de muitos anos, pelo Município de Mação e que já está enquadrada no sistema operacional da Proteção Civil do distrito de Santarém.
Patrícia Gaspar ouviu as explicações do vice-presidente da Câmara de Mação, António Louro, e aos jornalistas revelou que a mesma pode ser replicada em todo o país e adaptada a todo o tipo de ocorrências, não apenas a incêndios florestais.
A secretária de Estado da Asministração Interna explicou também de que forma é que estas equipas de intervenção permanente vão ser enquadradas, sendo certo que deverão estar todas operacionais até final do ano.
Patrícia Gaspar, secretária de Estado da Administração Interna
Instado a comentar as mais valias dos protocolos hoje assinados, em que Mação passa a ter duas EPI, o presidente da Câmara Municipal secundou as palavras de Patrícia Gaspar, tendo afirmado que o processo tem “várias virtudes” agregadas.
“Desde logo no proteger de pessoas e bens e garantir aos cidadãos que têm um sistema de proteção civil capaz de responder às suas necessidades, conjugando um outro fator importante que é a perspetiva de futuro para alguns jovens e fixação de pessoas”, disse Vasco Estrela, tendo ainda defendido “a gestão da paisagem e a reforma estrutural da floresta para que a questão do combate não seja tão discutida”.
Vasco Estrela, presidente da Câmara de Mação, deixou o registo de que as Áreas Integradas da Gestão da Paisagem (AIGP) ainda vão demorar a ser aplicadas e por isso há que apostar no combate a incêndios florestais. O objetivo é, daqui a dez anos, deixar de se falar de Kamov e Cannadair é sinal que se fez bem o trabalho de casa. Disse Vasco Estrela que apesar do bom trabalho de combate da ANEPC é preciso olhar para a floresta de outra forma e salientou esperar que as AIGP possam fazer essa mudança.
Vasco Estrela, presidente CM Mação
Estão atualmente a funcionar 359 EIP, envolvendo um total de 1.807 operacionais, tendo José Manuel Duarte da Costa, presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), perspetivado à Lusa que, “até ao final do ano”, estejam operacionais 500 equipas envolvendo 2500 bombeiros profissionais.
Para aquele responsável, as EIP, além de ajudarem a criar “um sistema mais credível, mais resiliente e mais robusto”, permitem também “uma abertura de futuro no caminho da profissionalização dos bombeiros voluntários”, que classificou como a “espinha dorsal” do sistema de proteção civil.
O presidente da ANEPC, Brigadeiro-General Duarte da Costa, deixou claro que este sistema de apoio à decisão, o McFire, tem condições para poder ser enquadrado na Proteção Civil, tal como já acontece no distrito de Santarém. De recordar que a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo foi a primeira estrutura supra-municipal a introduzir o McFire nas operações da Proteção Civil na sua área territorial. Depois acrescentou a Lezíria do Tejo e o McFire é hoje, no distrito de Santarém, uma ferramenta essencial no apoio à decisão, em termos operacionais.
Brigadeiro-General Duarte da Costa, presidente ANEPC
Estas 122 novas EIP vão ser criadas em 95 municípios e, na sua maioria, estas equipas vão ser as segundas a ser constituídas na mesma corporação de bombeiros.
Segundo o MAI, 11 vão ser as primeiras, 110 serão as segundas equipas e uma corporação de bombeiros passe a acolher a terceira EIP.
Criadas em 2001, estas equipas são constituídas por cinco elementos cada, que estão em permanência nos quartéis de bombeiros para ocorrer a qualquer situação de urgência e emergência registada no concelho.
Com a criação das novas 122 EIP eleva-se para 528 o total de equipas já protocoladas, o que corresponde a um crescimento para mais do triplo desde 2016, quando existiam 169.
Estão atualmente a funcionar 359 Equipas de Intervenção Permanente, envolvendo um total de 1.807 operacionais.
O MAI destaca que as EIP são formadas por “bombeiros profissionais e caracterizam-se pela sua elevada especialização, com competências em valências diferenciadas para atuarem em diferentes cenários”.
Do conjunto das 528 equipas protocoladas até agora, três em cada quatro foram criadas desde 2017 e no quadro da reforma do sistema de Emergência e Proteção Civil.
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