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Meteoabrantes: 20 anos a “mostrar” o tempo em Abrantes (com áudio)

2/01/2020 às 00:00
Estação “Davis Vantage Pro2 Plus”

Foi a 1 de janeiro de 2000, na mudança do milénio, que Hélder Silvano colocou on-line a sua estação meteorológica. Ou em rigor, os dados recolhidos pela estação e debitados para a internet através de software próprio que permite conhecer, em tempo real, as condições meteorológicas de Abrantes.

Localizada em pleno centro da cidade de Abrantes, a estação meteorológica tem os instrumentos de “medição” do tempo no telhado de um prédio no Largo do Chafariz. A ligação entre os instrumentos e o computador faz-se através de uma consola de comando. A estação “Davis Vantage Pro2 Plus” faz o registo do tempo a vários níveis -temperatura, vento, humidade, pressão atmosférica, pluviosidade - e aponta os caminhos para imagens de satélite, radares meteorológicos e sites com os alertas do tempo. Mas a Meteoabrantes aponta a outras áreas mais específicas como os sismos, vulcões, furacões ou até o risco de incêndio.

A Meteoabrantes [estação online] assinalou ontem, dia 1 de janeiro, 20 anos. Mas a paixão de Hélder Silvano pelo estudo do tempo começou mais cedo. Em meados da década de 90 comprou a primeira estação meteorológica já a sério. Numa altura em que a meteorologia era quase uma “vaca sagrada”, não existindo mais nada a não ser o Instituto de Meteorologia e os seus cientistas. E em que não havia o tempo registado como há hoje, em todo o lado e em qualquer dispositivo. Antes de haver Meteoabrantes já havia estação e já o então vereador da Câmara de Abrantes com os pelouros da Cultura e Deporto, mas também com a Proteção Civil andava nos meandros as depressões e anticiclones, superfícies frontais ou pressões atmosféricas.

Depois, em 1999, com a internet a ser mais “vulgarizada”, mais barata e com largura de banda mais alargada que permitia a colocação de dados na rede Hélder Silvano tomou a decisão de criar página “do tempo em Abrantes”. Na viragem do milénio e sem medo dos “bug's” anunciados, na altura, abriu a 1 de janeiro de 2000 a página meteoabrantes.info com a divulgação dos dados sobre a meteorologia em Abrantes.

Hoje a página é mais que um sítio onde se pode ver o tempo ou as previsões do tempo. É um portal de meteorologia e de todos os fenómenos que lhe estão associados. “Mostra” o tempo real em Abrantes. Mas se navegarmos com algum tempo vai encontrar o radar meteorológico que mostra a pluviosidade, o mapa de descargas elétricas (relâmpagos), o mapa de registo de sismos ou os alertas meteorológicos do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Podemos encontrar ainda as várias plataformas de alertas sobre o estado do tempo e sobre tempestades.

Há poucos dias vivemos em Portugal dias de tempestade que Hélder Silvano já tinha identificado muito antes dos alertas do IPMA e da Proteção Civil. “Eu normalmente faço os alertas mais cedo porque eles (IPMA) têm outro tipo de implicações”, salienta o meteorologista amador. Sempre com a tónica de que as previsões do tempo são feitas por cientistas, coisa que ele não é, garante, no entanto, que faz as projeções do estado do tempo com elevado grau de acerto. As projeções que os dados da sua estação fornece-lhe, mas também com todos os dados que estão, hoje, disponíveis online.

E deixa o alerta: “Vamos ter cada vez mais tempestades a virem do Atlântico para o nosso lado”. Não porque o tempo esteja maluco, mas, porque vivemos mesmo uma época de aquecimento global, algo que acontece por ciclos. “Tivemos um período de arrefecimento há uns séculos, em que a neve na serra da Estrela era permanente o ano todo. Hoje é ao contrário e há anos que a serra quase não tem neve”.

Depois confirma que nos últimos anos a temperatura subiu mesmo. E os dados estatísticos registados pela estação meteorológica revelam isso mesmo. “Temos de nos habituar a fenómenos mais extremos”, diz ao mesmo tempo que recorda que os nossos avós, por exemplo, falavam das estações do ano bem definidas, coisas que não existem hoje. “Basta irmos a 2017 e lembrarmos o período dos incêndios de outubro. E lembrarmos as temperaturas desse mês”.

E é neste contexto de um misto de preocupação por podermos estar a atingir “um ponto de não retorno” e a necessidade de estarmos cada vez mais com os sentidos em alerta para estes fenómenos que Hélder Silvano regista a necessidade da população ouvir os alertas da meteorologia [e depois da Proteção Civil] muito a sério.

Exemplo disso foi furacão Leslie em 2016, que passou pelos Açores e que entrou em Portugal continental. Quase ao minuto pode saber-se por aonde ia “entrar” a tempestade, mesmo que alguns locais não fossem atingidos podemos recordar os prejuízos da Figueira da Foz, por exemplo.

Voltemos ao final de 2019, na semana antes do Natal, Portugal “recebeu a visita” das tempestades Elsa e Fabien. A primeira foi muito intensa e deixou muitos prejuízos no norte de centro do país, principalmente. Choveu num dia mais do que no inverno todo do ano passado. E a tempestade trouxe ainda ventos intensos que provocaram estragos um pouco por todo o lado.

Um inverno normal dizem, mas são fenómenos extremos que cada vez mais vão afetar o nosso território.

Hélder Silvano revela que muita vezes fazem-lhe a pergunta sobre quando vai nevar em Abrantes. “Será difícil, mas creio que quando isso acontecer será um nevão a sério”.

Imagem dos dados da Meteoabrantes de 2 janeiro de 2020 11:48

Uma tempestade em 1977 ou 78 provocou um susto de toda uma vida

E como é que um professor de português/francês ganhou este gosto pela meteorologia?

Tudo começou ainda antes da faculdade. Numa tarde de verão na Albufeira do Castelo de Bode onde Hélder Silvano e uns amigos tinham ido acampar para a ilha. Criou-se uma tempestade, das grandes, de verão e o grupo ao tentar sair da ilha ficou “preso” nas águas com uma avaria no motor do pequeno barco.

Hélder Silvano relembra essa tarde com um sorriso, mas franze a testa com o susto de uma vida. “Os relâmpagos e os trovões tornaram a tarde tão assustadora (…) a cair na água iluminavam a albufeira que conseguíamos ver os peixes. E ali éramos nós os para-raios. Naquela imensidão de água éramos o alvo dos relâmpagos. Foi assustador. E não fosse um campista que viu a cena ter lá ido rebocar-nos, num barco maior, não sei qual seria o desfecho”. Mas lembra, entre um sorriso, que para além de os salvar ainda reparou o motor do barco.

O susto daquela tarde não mudou o rumo académico do jovem Hélder Silvano, que fez o curso de Português/Francês, mas levou-o a dividir o seu tempo livre entre a música e o estudo dos fenómenos do tempo. Ganhou aí um gosto interminável pela busca de informação sobre o tempo e os seus fenómenos. E recorda que na altura ainda pensou nessa área de formação, mas as saídas não existiam. “Era o Instituto de Meteorologia e pouco mais”.

Hoje fala em “depressões cavadas” ou frentes de “altas oclusas” como quem fala de “bife com batatas fritas”. Mas mantém o olhar atento sobre as cartas meteorológicas com uma garantia: se o tempo “ameaçar” o país, ou a região terá sempre o seu alerta, ou o seu aviso.

Hoje (2 de janeiro de 2020) está uma manhã fria e de nevoeiro. Estes dias, afirma Hélder Silvano, vão ter dias (de sol) quentes e noites muito frias. Poderemos ainda ter a geada chata das madrugadas. Mesmo assim “estão uns dias bons para praia [risos] para quem gosta". Se quiser saber o tempo real em Abrantes então basta procurar por meteoabrantes.info.

Jerónimo Belo Jorge

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