As mimosas floridas vestem a paisagem de amarelo entre janeiro e abril, mas esta beleza sazonal falseia a capacidade de perturbação ecológica de uma espécie invasora que conquistou extensas zonas do país e veio para ficar.
Com o nome científico “acacia dealbata”, a mimosa é uma árvore originária da Austrália, cuja área de implantação em Portugal, sobretudo no Centro, tem aumentado exponencialmente todos anos.
“Estas invasoras são uma ameaça real para a biodiversidade e para os nossos ecossistemas”, afirmou a bióloga Helena Freitas à agência Lusa.
A professora catedrática da Universidade de Coimbra realçou que a acácia possui “uma vantagem competitiva forte”, que lhe permite ganhar terreno à vegetação local que encontra pela frente.
As espécies autóctones “têm uma resposta lenta” nesta disputa. “As mimosas adaptam-se com facilidade às novas condições e aos inimigos que enfrentam no nosso território”, referiu.
Enquanto leguminosas, “têm capacidade de processar o azoto atmosférico”, o que lhes assegura um desenvolvimento mais rápido, fazendo definhar as plantas concorrentes, por escassez de água, nutrientes e exposição solar.
Helena Freitas alertou que “já são muito poucos os nichos de floresta autóctone”, no Centro e noutras regiões onde têm alastrado as manchas de invasoras, como as mimosas e os aliantos (“ailanthus altíssima”).
“Precisamos de uma agenda de restauro da floresta em Portugal. Vale a pena admitirmos que será um processo de prazo longo”, tendo presente a “necessidade de adaptação” às alterações climáticas, defendeu a cientista, que em janeiro assumiu o cargo de diretora do Parque de Serralves, no Porto.
Por sua vez, a diretora executiva da Lousãmel – Cooperativa Agrícola dos Apicultores da Lousã e Concelhos Limítrofes, Ana Paula Sançana, confirmou que o avanço das mimosas é um dos fatores adversos à produção, em quantidade e qualidade, do mel certificado da Serra da Lousã.
“Além da descaracterização da paisagem, mas também da nossa flora e biodiversidade, elas têm vindo a ocupar muitas das zonas que antes eram urzais”, sublinhou Ana Paula Sançana em declarações à Lusa.
As flores das diferentes variedades de urze determinam as características únicas do mel com denominação de origem protegida (DOP) Serra da Lousã, que abrange 10 municípios, cabendo a gestão da região demarcada à Lousãmel, com sede na Lousã, no distrito de Coimbra.
Por outro lado, a flor da “acacia dealbata” não é melífera, ao contrário da flor de eucalipto, espécie exótica que tem vindo a revelar também comportamentos de invasora na sequência dos fogos florestais dos últimos anos.
“Não vemos nenhuma inversão desta situação. Em zonas onde houve incêndios, a acácia consegue avançar com mais facilidade do que as outras espécies”, salientou Ana Paula Sançana.
Reconhecendo que “é muito bonito” o espetáculo das mimosas floridas nesta época do ano, a técnica afirmou que “depois é muito complicado e tem custos elevados” o combate à disseminação da espécie.
“Eu gostaria de ver a Serra da Lousã roxa, com as urzes em flor, e não amarela”, concluiu.
O casal José Pais e Paula Oliveira tem uma unidade de turismo em espaço rural, Villa Chanca, no concelho de Penela, e em regime de concessão gere também o Parque de Campismo de Pedrógão Grande, nos distritos de Coimbra e Leiria, respetivamente.
“Daqui a um tempo, os terrenos com mimosas valem zero”, prevê o engenheiro florestal José Pais.
Na sua opinião, “o país perde valor e tem custos tremendos” com ações para eliminar estas árvores ou pelo menos atenuar os danos que provocam, na paisagem e na economia do interior, designadamente no turismo, agricultura e outras atividades do setor primário.
Lusa