Mouriscas. Sábado. Dia 10 de julho. A temperatura já ultrapassava em muito os 30 graus. O topo do morro tem, como é natural nesta época do ano, toda a erva seca. Mas isso não colocou qualquer entrave para o grupo de dirigentes de voluntários da Associação Cultural das Rotas de Mouriscas (ACROM) terem colocado mãos à obra na recuperação do moinho das Aldeias.
A ideia é muito simples. Mouriscas era, noutra décadas do século passado, terra de moinhos, lagares e azenhas. Eram às dezenas, como qualquer aldeia rural com colinas onde o vento bate e ribeiras em que a água corria quase todo o ano.
Os tempos mudaram e todas estas estruturas de uma economia rural foram acabando e, muitas delas [ou a maior parte] ficaram ao abandono.
Os moinhos de de vento constituem um desses exemplos. Os edifícios circulares pontuam, ainda, algumas das colinas da freguesia. Tão dispersos como a própria aldeia. E de os que estão em pedra ficam misturados entre a vegetação envolvente, os que são pintados são marcas que se tornam visíveis na paisagem envolvente.
O moinho das Aldeias é, tal como a quase totalidade, propriedade particular. Este fica localizado quase à entrada da freguesia. Quem sai da A23 e sobe para o centro de Mouriscas, mais ou menos em frente ao entroncamento para a ACATIM [lar de Mouriscas] pode olhar para a colina à direita e ver que ali está um moinho. Agora já se vê porque no sábado, dia 10 foi alvo deste trabalho de pintura do exterior e interior.
A ACROM tem o contrato de comodato deste moinho pelo período de 20 anos. A sua proprietária autorizou a associação a fazer a recuperação do edifício que, embora destelhado, ainda tem a mó no local onde há 60 ou 70 anos terá moído quilos e quilos de cereais.
O moinho, como os outros, estava já em pedra. A ACROM deu andamento a esta ideia de o recuperar e começou as intervenções na estrutura de construção. Toda a parede, circular, foi rebocada. No sábado foram feitos trabalhos de limpeza do interior e a pintura de toda a estrutura.
Sem medo do calor, quase no final dos trabalhos, António Louro, presidente da direção da ACROM, explicou aquilo que pretende para aquele espaço. “Trata-se da requalificação do moinho das Aldeias. Hoje fizemos a pintura interior e exterior e temos o projeto para instalar o mecanismo para o colocar a funcionar”, explicou o dirigente da ACROM que aponta esta instalação no sentido de criar mais um atrativo para mostrar nos dias de hoje como funcionavam estas estruturas.
Se a recuperação do edifício é fácil, a construção do mecanismo que coloca a mó a rodar é “um processo arrojado, pois aqui na zona não há muitos moinhos a funcionar. Por isso seria muito bom colocar um a funcionar”.
Já sobre a construção do mecanismo António Louro diz não ser fácil. “Recentemente apresentámos uma candidatura ao PRODER, e como não há muitas empresas a trabalhar nesta área a candidatura não andou para a frente. Neste momento temos uma solução caseira, feita por pessoas das Mouriscas e mais económica. Vamos apostar nela”, adiantou o presidente da direção da ACROM que acrescentou que ainda há pessoas, algumas mais velhas, que ainda sabem como eram estes mecanismos. “Vamos tentar”.
Imagem de satélite: Googlemaps
Este moinho das aldeias [localizado nas coordenadas 39°29'56.7"N 8°05'47.5"W ] fica numa zona que parece não ter muita altitude. Mesmo assim, no dia destes trabalhos, Aristides Lopes, outro dirigente da ACROM pintava o topo das paredes do moinho, que não tem telhado.
E é lá de cima, sem medo de alturas, que explica: “Daqui vê-se tudo. Os outros moinhos”. E aponta-os todos, um a um. Os que estão pintados conseguem ver-se, ao longe. Os outros é mais difícil. “Ali o das Sentieiras (lugar de Mouriscas) agora não se consegue ver. Está lá no meio das árvores”. E acrescenta que não se consegue ver porque está em pedra.
Do mesmo local pode ainda apreciar o maior aerogerador de energia eólica construído na serra do Bando em Mação. De Mouriscas consegue perceber-se a sua dimensão, em relação a todos os outros do parque eólico.
Neste sábado era possível subir ao topo da parede do moinho por via das estruturas que ali estavam montadas para a pintura. Em situação normal ficamos ao lado da estrutura, mas podemos igualmente olhar em redor e apreciar a aldeia e a dispersão dos povoados.
António Louro diz que ainda não sabe quando é que o moinho voltará a rodar as velas e com a força motriz a mó voltará a moer cereal. “Daqui a uns meses”.
Mas António Louro explica que a ACROM tem um outro projeto mais adiantado e este com projeto de financiamento aprovado no PRODER, Renovação de Aldeias. Trata-se da recuperação de uma azenha da ribeira da Arcês, num dos troços da Grande Rota 55 das ribeiras da Arcês, Rio Frio e Rio Tejo.
Aqui o projeto pode andar mais rapidamente pois “já estamos na fase de seleção do empreiteiro”, explica o dirigente da ACROM adiantando que está em causa a recuperação da azenha para poder funcionar. “O projeto prevê a reconstrução da azenha e uma levada de 700 metros que leva a água do açude da ribeira até à roda aguadeira e ao rodízio da azenha”.
A azenha tem roda aguadeira e a mó para o milho e o rodízio para o trigo. “Vamos tentar por as das a funcionar”.
Este projeto, deverá demorar um ano a estar concluído. “É uma obra com muitos mecanismos para recuperar e temos de encontrar outros, que se perderam”, justifica António Louro. Mas a certeza é que dentro deste período a azenha estará pronta para a moagem dos cereais, milho e trigo, assim haja água na ribeira que possa servir de força motriz para os mecanismos.
António Louro, presidente direção ACROM
A Associação Cultural das Rotas de Mouriscas (ACROM) avança para estes projetos que se vão juntar à GR55 inaugurada a 26 de Setembro de 2020, desenvolvendo-se por três concelhos do quadrante nordeste do distrito de Santarém: Abrantes, Mação e Sardoal.
Trata-se de uma Rota de mais de 40 quilómetros com zonas de ribeiras, levadas e trilhos que passam por azenhas, praias fluviais, capelas, pelo rio Tejo, fontes, caminhos de ferro e pela Oliveira mais antiga da Península Ibérica, a Oliveira do Mouchão.
E nesta rota as equipas da ACROM continuam a manter alguns trilhos circuláveis, uma vez que têm de fazer o corte da vegetação que todos os anos “tapa” os caminhos por pelas encostas e levadas.
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