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Os 39 anos de emissões da Antena Livre

21/01/2020 às 00:00

39 anos. São 39 anos desde que o microfone de Abrantes ecoou pelos transístores da região de Abrantes. Era assim que começava a RAL – Rádio Antena Livre, na altura como uma “coisa” ilegal por isso tinham a alcunha de rádios “piratas” ou “livres”. Começaram a nascer por todo o país, fruto dos andamentos dos tempos, das necessidades das populações e da “fome” crescente de informação. Um andamento tecnológico como outros que se lhe seguiram. Mas sobre isso haverá historiadores a tratar desses fragmentos daquilo que foi feito em Portugal a partir do início da década de 80. A década da música. De mudanças. Do início dos computadores em casa das pessoas. Dos walkman's para ouvir música onde quer que andássemos.

Por cá, por Abrantes, o Tejo foi o grande responsável pelo aparecimento da RAL que anos a fio desafiou as autoridades, as fiscalizações e até as possibilidades de prisão. Sim. Fazer rádio era ilegal.

Mas comecemos pelo princípio. “As cheias de 79 foram muito violentas e as populações não tinham informação disponível. Foram os radio amadores Carlos Ramos e Manuel Sousa Casimiro que supriram a ausência da atenção da comunicação social de âmbito nacional.

Passada a cheia, ficou a ideia. Juntou-se-lhe Augusto Martins e iniciou-se a “fase de ousadia”: em janeiro de 1981, a RAL – Rádio Antena Livre, atreveu-se a iniciar emissões regulares, mas ilegais, a partir de Arreciadas, no concelho de Abrantes. O slogan "A tentação de fazer, o prazer de escutar rádio local" dá disso cabal imagem. Perseguida pelos serviços radioelétricos, deu um passo em frente e liderou o Movimento das Rádios Livres, de que António Colaço era uma das alavancas, contra o monopólio RDP/RR. “Em Abril, Rádios Mil” era o lema”.

Era assim o lema e foi assim que dezenas de “radialistas” desafiaram as autoridades e os governos da altura, assim como os serviços rádio elétricos (serviços de fiscalização), na altura. E desses tempos contam-se as histórias várias. Uma vez, sabendo das fiscalizações, deslocaram a emissão de S. Miguel do Rio Torto para Mouriscas. E “fugiram”.

Há outra história que marca a “pirataria” da RAL. Numa noite a fiscalização localizou as emissões feitas a partir do Convento de S. Domingos e mandou a polícia para a porta. Como lá estavam os “locutores” fechados, um dos “radialistas” foi “pedir ajuda” ao presidente da Câmara de Abrantes da altura, José Bioucas. Este autarca sempre apoiou a causa e acedeu a “distrair” os agentes da autoridade para que os “piratas” fugissem pelas traseiras com o equipamento. E assim aconteceu, quando os fiscais e a polícia entraram no Convento de S. Domingos este estava vazio.

Nestes oito anos, entre 1981 e 1989, foram muitos os homens e mulheres que fizeram rádio e que fizeram a rádio. Os nomes de Manuel Sousa Casimiro, Carlos Ramos, Augusto Martins e Maria Helena Silva fazem parte da história do início da RAL. Mas há muitos outros, como o António Colaço que depois como assessor do PS na Assembleia da República começou a “lutar” noutras vias, em nome das rádios locais.

“Em 1989, conquistada a nova Lei da Rádio, todas as “rádios livres” ou “piratas” fecharam por alguns meses, a fim de abrirem as que fossem licenciadas. Foi o caso da RAL”.

No resumo da história da rádio, no site da Antena Livre, podemos ainda ler que: “Nestes primeiros tempos, o 25 de Abril ainda estava fresco e a sociedade fervilhava de iniciativa, de criatividade e de um grande esforço de afirmação da identidade local, que inclui o poder local democrático. Mas a comunicação social, a nível nacional, vivia no rescaldo do 25 de Abril e 25 de novembro. O Público surgiria em 1990, a SIC em 92 e a TVI em 93, em 94 a televisão por cabo. A RAL surge, portanto, antes desta abertura toda”.

Em 1991, já legalizada como uma cooperativa, muda os estúdios de Arreciadas para Abrantes (centro da cidade, para a Rua Manuel Constâncio) e é aí que se moderniza com os primeiros sistemas informáticos. Em 97 muda novamente de instalações para a Rua General Humberto Delgado, local onde ainda hoje funciona. No final da década de 90 entra numa grave crise financeira, como muitas outras no país e em 2001 o Grupo Lena Comunicação adquiriu o alvará da estação emissora. Foi em 2001 que nasceu a Media On, Comunicação Social Lda que transformou a antiga RAL numa nova rádio à qual em jeito de homenagem chamou Antena Livre: uma rádio nova com uma profunda redefinição estratégica e musical. E acrescentou-lhe outra ambição.

2005 é marcado pela entrada da Antena Livre na internet com a emissão online e “vive-se então uma operação de reposicionamento da rádio e consolidação empresarial, com uma nova energia em sintonia com os tempos modernos”.

A trabalhar para um público alvo adulto, a grande aposta da casa é a Informação Antena Livre que se assume como informação de proximidade, não só do concelho de Abrantes, mas também de todos os concelhos da área de cobertura. A música de qualidade e os diversos conteúdos fazem da Antena Livre... a rádio como você gosta!

Em 2018, a Antena Livre "volta às origens" e é adquirida ao Grupo Lena Comunicação pelo abrantino Luís Nuno Ablú Dias que aumenta o portfólio de marcas da empresa, já que tem o Jornal de Abrantes (mensário gratuito) e o novo projeto online, a Rádio Tágide.

Mas se hoje se cantam os parabéns e evocamos a história, os fundadores e todos os que passaram, de qualquer forma, pela RAL e pela Antena Livre, também é de justiça falar de todos aqueles que hoje produzem a rádio nas suas várias plataformas. Quer sejam os locutores, jornalistas, comentadores e colaboradores, quer seja no FM ou no online.

A Antena Livre continua a assumir-se como “A rádio como você gosta” e aposta numa playlist musical variada, de qualidade, e de acordo com a estratégia que assumiu há alguns anos, trabalhar para um público adulto.

Tem na informação diária e semanal uma das suas alavancas acompanhando de forma próxima os concelhos de Abrantes, Barquinha, Constância, Mação, Sardoal e Vila de Rei, piscando o olho a Gavião, Ponte de Sôr e Sertã e não esquecendo, claro, a região onde está inserida, o Médio Tejo e o distrito de Santarém. E não deixa de lado um olhar diário sobre o país e o mundo porque, cada vez mais, a globalização é uma realidade.

A opinião também faz parte da emissão quer seja na opinião do dia ou no programa de comentário RADAR.

As entrevistas de fundo são outra presença na grelha atual onde quatro entrevistadores, um por semana, convidam personalidades para contarem a sua história, as suas histórias.

Há ainda espaço para diversas rubricas com incidência na edição da manhã, entre astronomia, coaching, saúde e bem-estar, nutricionismo, história, filosofia e cultura..

A Antena Livre conta ainda com programas produzidos fora da estação, como o “Amo-te Rádio” do Pedro Miguel Ramos, o “Rádio Aurora” produzido no âmbito da terapia no Hospital Júlio de Matos, o “Linhas Cruzadas” do Tiago Pereira e o “Cool Sound” com o Aurélio Luís.

A música nova tem sempre o olhar atento de Luís Delgado, embora, cada vez mais, os anos 80 sejam uma marca forte na identidade musical da rádio.

O desporto continua a ser uma presença assídua aos fins de semana, sendo que os relatos e comentários dos jogos da região fazem parte do quotidiano de quem acompanha, naturalmente, “a bola” nos regionais e no Inatel.

Hoje a Antena Livre é também uma fonte de produção de conteúdos. De referir e vincar que a sua informação é retransmitida na Rádio Tágide e noutras duas rádios online produzidas na área da grande Lisboa. Também algumas das rubricas semanais da estação estão a ser retransmitidas em rádios de outros pontos do país, o que revela que o que “se faz por cá também tem qualidade para passar noutros projetos” que nada têm a ver com Abrantes ou com a Media On.

Cada vez mais o FM está a dar passos de braço dado com o online e essa é também uma das apostas, poder mostrar na internet aquilo que acontece na região, como este texto que o ouvinte/leitor está a aceder.

Mas há uma garantia da direção de informação da Antena Livre, é que não cederemos ao jornalismo fácil das redes sociais ou ao imediatismo erróneo que cada vez mais grassa por aí.

A rádio começou com cassetes, com gravadores de bobines e discos de vinil. Passou dos gravadores de cassete e gira-discos para os minisdisc e CD's. Evoluiu depois para os datas. Passou para os ficheiros informáticos. Entrou na era dos automatismos, software e computadores. Depois a internet trouxe a imagem e o vídeo à rádio. A seguir entraram as redes sociais como meio difusor de conteúdos ou da sua produção.

A rádio entra na “bolha” do ouvinte, pelo rádio, pelo carro, em casa, no computador, no tablet ou no telemóvel.

Hoje até parece que faz parte da história aquela informação que ainda existe na Proteção Civil. Em caso de emergência sabe que deve ter um rádio a pilhas (ou um transístor) no seu kit de sobrevivência?

Em dia de aniversário fomos ao Arquivo Histórico de Abrantes e à Biblioteca Municipal António Botto espreitar os jornais da altura, os locais. Deixamos aqui as capas do Jornal de Abrantes (23 de janeiro de 1981), do Nova Aliança (igualmente de 23 de janeiro de 1981) e do já desaparecido Notícias de Abrantes (de 22 de janeiro de 1981). Pode espreitar os destaques das notícias da altura do aparecimento da rádio de Abrantes, a Antena Livre.

Hoje estamos de parabéns, mas continuamos com a nossa missão: Informar e entreter. Dar mais no FM, no online, na responsabilidade social, no apoio a causas, no apoio à região. Ser mais uma peça do puzzle que é o nosso país, que é o nosso mundo. Afinal somos de Abrantes, mas temos a presença assegurada à escala planetária. Nunca os fundadores pensaram, em 1981, que a rádio pirata poderia ser uma rádio local aberta ao mundo.

Jerónimo Belo Jorge

 

 

 

 

 

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