O projeto Encosta Viva encerrou ontem em Abrantes, com a realização do último conjunto de atividades naquele que é, do ponto de vista estatístico, o bairro com maior densidade populacional do Médio Tejo e um dos maiores do distrito de Santarém.
As atividades iniciaram-se com a exibição de um documentário sobre a urbanização. Foram inaugurados o novo campo de petanca, a intervenção de arte urbana pelo artista Francisco Camilo no campo de basquetebol do bairro e outras realizadas pela Escola António Torrado em bancos e noutros pontos do bairro.
O programa incluiu ainda um mercado de outono, com produtores agroalimentares e artesãos, para além rastreios cardiovasculares e de cessação tabágica pela farmácia Sousa Trincão, e várias atividades desportivas, como torneios de basquetebol e de petanca, zumba e gincana.
Na sessão de encerramento, antes da exibição do documentário, Dulce Leitão, coordenadora da Escola António Torrado, evocou aquilo que foi feito no bairro da Encosta da Barata, no qual a escola teve uma participação ativa.
Já Isabel Alves, diretora do agrupamento de escolas Dr. Manuel Fernandes, ao qual pertence a Escola António Torrado, referiu que esta escola “é do bairro e faz parte do bairro.” E adiantou que está de portas abertas aos pais dos alunos e aos habitantes do bairro. Indicou ainda que “vamos fazer tudo para manter a encosta viva. E disse em reuniões que a nossa aposta (do agrupamento) era a escola António Torrado. E uma das novidades poderá passar pela instalação de um Centro de Ciência Viva que já está em processo de candidatura." Ao mesmo tempo indicou que a escola já está na capacidade máxima de meninos.
Conceição Pereira, técnica coordenadora da Tagus, faz um balanço do programa, explicando o início, desde a ideias, passando pelas reuniões que foram acertadas as parcerias até à apresentação o projeto. Em 270 candidaturas aprovadas pelo programa Bairros Saudáveis, em todo o continente, o projeto de Abrantes, Encosta Viva, ficou classificado no 11.º lugar.
A Tagus tinha previsto, nas suas atividades, ações na área social e de educação. “Não tínhamos tido ainda verba ou oportunidade de candidaturas para desenvolver um desses programas. Foi agora”, explicou a coordenadora da Tagus.
Conceição Pereira revelou depois que os técnicos ouviram a comunidade e começaram “a fazer reuniões com os condomínios, a perceber as necessidades, mas também a explicar qual era o propósito do projeto.” O objetivo final, depois de um conjunto de atividades desenvolvidas ao longo de quase um ano, “é a criação de uma associação de moradores que possa ser interlocutora junto de outras instituições” justificou ainda a coordenadora da Tagus.
Após revelar as atividades desenvolvidas concluiu a dizer que “agora [Tagus] podemos continuar a trabalhar, mas sem o financiamento público.”
Conceição Pereira, técnica coordenadora da Tagus
Bruno Tomás, presidente da Junta de Freguesia de Abrantes e Alferrarede, destacou as atividades que foram desenvolvidas ao longo destes dez meses. Disse ainda que as pessoas têm de ter orgulho no bairro da encosta da barata. São cerca de 550 apartamentos. É um dos maiores do concelho e do médio Tejo.
Objetivo foi cumprido e “não esquecer que nós estamos no campo e não na bancada a ver.”
Insistiu nalguns melhoramentos feitos pela Junta de Freguesia que tiveram o condão de devolver às pessoas espaços públicos que estavam ao abandono. E notou que essa vai continuar a ser uma preocupação da autarquia a que presidente, tendo consciência que também é preciso que o cidadão cumpra o seu papel de cidadania, dando como exemplo, a limpeza. “Não há recursos para todos os dias fazer limpeza de toda a freguesia. Os cidadãos também deveriam ajudar, não deixar o lixo no chão, mas sim no sítio certo.”
Já Luís Filipe Dias, presidente em exercício da Tagus e vereador da Câmara de Abrantes, referiu que há um sentimento do que foi a ideia inicial, com as parcerias, criou-se um mosaico social representativo deste bairro. E notou também que o projeto maior era a criação de uma associação de moradores.
“Vamos continuar com estes parceiros seja através do governo de Portugal ou do governo local”, disse o autarca salientando que “estes parceiros intervêm diretamente no terreno. Estão sediadas neste bairro 30 entidades.”
O vereador deixou a sua expetativa em modo de certeza: “O que aconteceu no último ano é o lastro daquilo que vai acontecer no próximo ano e nos outros.”
Mas não descurou que há muita coisa para fazer. “Acho que todos de mãos dadas têm a sensação que o governo teve o papel que teve ao apoiar o projeto. Não está cá, mas deveria estar. Todos juntos tiveram o seu papel naquilo que foram as coisas que foram feitas e todas aquelas que ainda vão ser feitas.”
E concluiu a dizer que “o desafio da Tagus é ter mais bairros saudáveis e encostas vivas, porque a encosta é fixe. A Encosta é isto, somos nós."
O início do bairro e a primeira moradora que ainda lá vive
Recordando algumas datas da urbanização da Encosta da Barata, é em 1968 que a Câmara Municipal compra os terrenos daquela encosta.
A 31 julho de 1973 são apresentados os primeiros estudos de urbanização dos 13 hectares, da autoria do Arquiteto Duarte Castel-Branco.
Depois foi feito o desafio técnico à Construtora Abrantina. “Era uma empresa de Abrantes a construir em Abrantes”, lembrou Rodolfo Garcia, à altura funcionário da empresa. A partir deste empreendimento foram feitos muitos outros em vários pontos do país.
Em 1982 foram apresentados os planos para toda a área e em 1984 já havia anúncios de venda de apartamentos T3.
Ana Carmo foi a primeira moradora no bairro da Encosta da Barata. E ainda lá vive, porque gosta de todo o espaço envolvente aos edifícios. Escolheu o Bloco M fica perto da estrada principal que vai para a cidade.
E à Antena Livre a primeira moradora da Encosta da Barata, onde entrou em 1989, contou a sua opção e porque é que ainda vive neste bairro.
Ana Carmo, primeira moradora na Urbanização da Encosta da Barata
O projeto “Encosta Vida” teve por objetivo principal “desencadear mecanismos de organização que sustentem a criação de uma Associação de Moradores, com todas as vantagens que trará para a comunidade residente e empresarial”. Da parceria fizeram parte a TAGUS – Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Interior, o Município de Abrantes, a APEAT - Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola António Torrado, a Associação dos Escoteiros de Portugal – Grupo 280 de Abrantes, o Corpo Nacional de Escutas – Agrupamento 172 de Abrantes, a Cres.Ser – Associação de Desenvolvimento Pessoal e Comunitário, a Escola Básica António Torrado do Agrupamento de Escolas nº2 de Abrantes e a União de Freguesias de Abrantes (S. Vicente e S. João) e Alferrarede.
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