Simão Pita e a mulher têm, há vários anos, a mesma rotina todas as sextas-feiras. De manhã, ou depois do almoço, entram na horta e começam a colheita de produtos hortícolas à medida para as encomendas que ao final na tarde haverão de ser levantadas no átrio do edifício Milénio, em Abrantes. Juntam-se os tubérculos e depois a fruta. Há ainda lugar para as aromáticas. Ou seja, aquilo que uma família pode precisar para a sua alimentação de uma semana.
Simão Pita é um dos agricultores resistentes do programa “Prove” de Abrantes que foi desenvolvido pela Tagus, já lá vão duas mãos cheias de anos. Para ser produtor do Prove basta ter uma horta, produzir horto-frutícolas e ser coletado nas finanças. Depois é gerir a lista de produtos que fazem parte do programa, até porque cada consumidor, pode recusar até cinco produtos que deverão ser trocados por outros.
Andreia Lucas começou a ir ao “Prove” por ter acesso a produtos com mais qualidade. “Não tem nada a ver com os produtos do supermercado. O sabor da fruta não tem nada a ver”. A Andreia diz que confeciona os produtos que lhe são disponibilizados todas as semanas, mas pode sempre fazer uma ou outra exclusão, pontualmente. É uma cliente do prove já lá vão dois anos.
Anabela Silva foi levantar o cabaz e diz que “devemos apoiar os nossos produtores. E são produtos da terra”. A única coisa que mudava, se pudesse, era levar só os produtos que quer. Alguns, diz Anabela “ficamos a olhar para eles e perguntamos: o que é vou fazer?” No entanto, sabe que é assim, que as regras são assim. Da lista total dos produtos só pode alterar cinco.
O “Prove – Promover e Vender” é uma metodologia que pretende contribuir para o escoamento de produtos locais, fomentando as relações de proximidade entre quem produz e quem consome, estabelecendo circuitos curtos de comercialização entre pequenos produtores agrícolas e consumidores. Está implementado em 12 distritos de Portugal e, no de Santarém, é presença assídua em Abrantes e Ourém. Em Abrantes conta com dois produtores: Simão Pita e Horta da Aldeia e com 32 consumidores regulares. E não há mais consumidores porque não há mais produtores.
Há mesmo o caso de um casal jovem que veio do Porto para Abrantes e que ficou satisfeito por encontrar o “Prove”. Ao que contaram ao Jornal de Abrantes, na cidade invicta já eram consumidores e, naturalmente, se estavam satisfeitos procuraram de imediato os cabazes em Abrantes.
No dia 25 de janeiro, um casal residente em Alcaravela, concelho de Sardoal, acompanhou o processo e agendou uma visita à horta de Simão Pita. Estão a equacionar a entrada na lista dos produtores. Se entrarem poderá haver um ajuste na lista dos consumidores.
A Tagus é a entidade que desenvolveu o programa no Ribatejo Interior, na sua área de influência. No início até a Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes (EPDRA) integrou os produtores, mas acabou por sair, abrindo espaço a outros agricultores. Simão Pita, que também é professor na EPDRA diz que alguns dos “seus” produtos são da escola. Porque não os produzindo todos aproveita a escola para os adquirir e colocar nos cabazes.
Aliás, um dos maiores problemas para os produtores do “Prove” é terem de conseguir colocar nos cabazes uma dúzia de produtos. Não se podem especializar em dois ou três. Há, no entanto, uma garantia que é dada no “Prove”: são produtos de época.
Simão Pita diz que por vezes os consumidores questionam os tamanhos da fruta, por exemplo, uma vez que não é calibrada, como a que encontramos no supermercado.
O fundamental em cada cabaz é que contenha produtos “para as pessoas fazerem a sopa, os acompanhamentos, as saladas e a fruta. O que interessa é que as pessoas fiquem com produtos frescos para uma semana ou 15 dias”. Simão Pita acrescenta ainda que não há produtores certificados em agricultura biológica, mas garante que seguem os mesmos princípios. “Nós aqui estabelecemos uma grande proximidade e confiança entre o agricultor e o consumidor”.
Simão Pita deixa um concelho a eventuais interessados na produção: “Quando planificamos a nossa horta tem de ter em atenção que devemos ter o máximo de diversidade, porque as pessoas não querem consumir todas as semanas os mesmos produtos”.
O “Prove” de Abrantes tem como local de distribuição dos cabazes o edifício Milénio, todas as sextas-feiras, das 16 às 19 horas.
Os verdes para uma semana
No dia que o Jornal de Abrantes visitou o “Prove” Simão Pita colocava as placas com os nomes dos consumidores que haveriam de chegar e levar o seu cabaz. E fomos ver o que é que no dia 24 de janeiro cada “proprietário” do cabaz levou para casa. Batata e batata-doce, depois cebolas, alho-francês, bróculo, couve portuguesa, couve-flor, clementinas, laranjas, kiwis, limões e maçãs.
E ervas aromáticas também compõem o ramalhete, neste caso os cabazes tinham tomilho e raminhos de coentros ou de salsa. Há cabazes de 7 – 9 quilos que custam 10 euros e cabazes mais leves, com 4 a 5 quilos que têm um preço de 6 euros. Mas há uma garantia, o consumidor leva os horto-frutícolas diretamente dos agricultores.
Jerónimo Belo Jorge