Com o auxílio do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), os astrónomos descobriram o possível “irmão” de um planeta que orbita uma estrela distante. A equipa detectou uma nuvem de detritos que pode estar a partilhar a órbita deste planeta e que se acredita ser formada pelos blocos constituintes de um novo planeta ou os restos de um planeta já formado. A ser confirmada, esta descoberta corresponderá à evidência mais concreta encontrada até à data de que dois exoplanetas podem partilhar uma mesma órbita.
“Há duas décadas, a teoria previa que pares de planetas de massa semelhante poderiam partilhar a mesma órbita em torno da sua estrela, os chamados planetas troianos ou co-orbitais. Agora, e pela primeira vez, parece que encontrámos indícios concretos que favorecem esta teoria“, disse Olga Balsalobre-Ruza, estudante de doutoramento no Centro de Astrobiologia em Madrid, Espanha, que liderou o estudo publicado hoje na revista da especialidade Astronomy & Astrophysics.
Os troianos, corpos rochosos na mesma órbita de um planeta, são comuns no nosso próprio Sistema Solar [1], sendo o exemplo mais famoso os asteróides troianos de Júpiter – mais de 12 000 corpos rochosos que se encontram na mesma órbita em torno do Sol que o gigante gasoso. Os astrónomos previram que os troianos, em particular os planetas troianos, poderiam também existir em torno de outras estrelas que não o nosso Sol, mas as provas da sua existência têm sido escassas. “Até agora, os exotroianos (planetas troianos exteriores ao nosso Sistema Solar) têm sido uma espécie de unicórnios, ou seja, apesar da teoria permitir que existam, nunca foram detectados“, disse o co-autor Jorge Lillo-Box, investigador no Centro de Astrobiologia, em Madrid.
Agora, com o auxílio do ALMA, do qual o ESO é um parceiro, uma equipa internacional de cientistas descobriu a mais forte evidência observacional encontrada até à data de que os planetas troianos podem, de facto, existir no sistema PDS 70. Esta jovem estrela é conhecida por albergar dois planetas gigantes, semelhantes a Júpiter, PDS 70b e PDS 70c. Ao analisar observações ALMA deste sistema, retiradas do arquivo científico, a equipa detectou uma nuvem de detritos no local da órbita de PDS 70b onde se espera que existam planetas troianos.
Os troianos ocupam as chamadas zonas lagrangeanas, duas regiões extensas na órbita de um planeta onde a atração gravitacional combinada da estrela e do planeta pode reter material. Ao estudar estas duas regiões da órbita de PDS 70b, os astrónomos detectaram um sinal ténue vindo de uma delas, o que poderá indicar que uma nuvem de detritos com uma massa até cerca de duas vezes a da nossa Lua existe nesse local.
A equipa acredita que esta nuvem de detritos possa indicar a presença de um mundo troiano existente neste sistema ou mesmo a de um planeta em processo de formação. “Quem poderia imaginar dois mundos que partilham a duração do ano e as mesmas condições de habitabilidade? O nosso trabalho apresenta a primeira evidência de que tais mundos poderão existir“, diz Balsalobre-Ruza. “Podemos imaginar facilmente um planeta a partilhar a sua órbita com milhares de asteróides, como é o caso de Júpiter, mas para mim é extraordinário pensar que dois planetas ou mais possam partilhar a mesma órbita“.
“O nosso trabalho de investigação é um primeiro passo no sentido de procurarmos planetas co-orbitais muito jovens, ou seja, muito cedo desde a sua formação“, diz a co-autora Nuria Huélamo, investigadora no Centro de Astrobiologia de Madrid. “Este trabalho levanta novas questões sobre a formação dos troianos, como é que estes objetos evoluem e quão frequentes serão em diferentes sistemas planetários“, acrescenta Itziar De Gregorio Monsalvo, Diretora do Gabinete de Ciência do ESO no Chile, que também contribuiu para este trabalho de investigação.
Para confirmar sem margem de dúvida esta detecção, a equipa terá de aguardar até 2027, altura em que utilizará o ALMA para investigar se tanto o PDS 70b como a sua nuvem de detritos “irmã” se deslocam em conjunto de forma significativa ao longo na sua órbita em torno da estrela, o que “corresponderia a um enorme avanço no campo dos exoplanetas“, diz Balsalobre-Ruza.
“O futuro deste tópico é muito excitante e aguardamos com expectativa as capacidades mais alargadas do ALMA, planeadas para 2030, as quais melhorarão drasticamente a capacidade da rede para caracterizar troianos em muitas outras estrelas“, conclui De Gregorio Monsalvo.
Observatório Europeu