Foi na quarta-feira, 15 de janeiro, por volta da hora de almoço que o céu ficou cinzento e uns instantes de muito vento e chuva forte. Não havia qualquer alerta meteorológico ou da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil [os avisos para a depressão Glória viria a entrar em vigor apenas no fim de semana]. Tínhamos, portanto uma normal quarta-feira de inverno.
Na sexta-feira, dia 17 de janeiro, quase por acaso o presidente da Junta de Freguesia de Bemposta, Manuel João passou por aquela zona, afastada das aldeias. Algures entre Chaminé e Água Travessa detetou uma quantidade de árvores arrancadas e partidas a meio. Surpreendido, entrou pelos terrenos adentro e percebeu que tinha acontecido ali um fenómeno qualquer, pois havia uma quantidade enorme de árvores arrancadas pela raiz, umas, e partidas a meio, outras.
À Antena Livre o autarca da Bemposta contou a devastação que encontrou. “Mesmo estando ligado à floresta e ao campo nunca tinha visto uma destruição natural tão grande”.
Manuel João conta ainda que todos os indícios apontam para um tornado, pois pode verificar-se nalgumas árvores as ramagens “torcidas pela força dos ventos”. E adianta que face ao que viu “deve ter sido um tornado já com alguma intensidade.”
Habituado ao campo e como caçador Manuel João ficou surpreendido com o que viu. “São uns três quilómetros e meio de destruição, de árvores arrancadas”. Diz que contactou de imediato a Proteção Civil Municipal e o responsável pela MeteoAbrantes no sentido de tentar perceber o que se tinha passado.
Sobre o momento certo em que terá acontecido o fenómeno não há certezas. Como o que aconteceu foi fora das zonas habitadas não existe um registo certo, apenas relatos de que “por volta da hora de almoço houve uma chuvada forte e com vento”.
Dessas observações terá sido feita a confirmação de que por ali aconteceu um tornado.
Imagens captadas pelo presidente da Junta de Freguesia de Bemposta
Hélder Silvano, responsável pela estação meteorológica MeteoAbrantes foi ao local ver os estragos e, como meteorologista amador, fazer um levantamento dos danos para enviar ao instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Diz que ficou registado de imediato, agora é preciso a clarificação científica dos especialistas para classificar o fenómeno como tornado, mas afirma não ter dúvidas que foi isso que se passou. “Face ao grau de destruição visível não tenho dúvidas que foi um tornado que passou ali. E pode ter sido um F1 [ventos até 180 km/h] face às árvores arrancadas e à forma como algumas estão torcidas”, vinca Hélder Silvano que acrescenta que ter-se-á criado ali “uma supercélula que andou os cerca de três quilómetros e depois desapareceu”. Aliás, explica, que mesmo sem alertas ou avisos meteorológicos havia condições favoráveis à ocorrência destes fenómenos, porque um tornado forma-se e depois desaparece. Neste caso terá percorrido uma distância de três mil metros, mas longe de povoados por isso não foi visível.
Hélder Silvano recolheu imagens, até de drone, para fazer um relatório para o IPMA que regista os fenómenos e pode avançar com outro tipo de investigações. E relembra que para a ocorrência destes fenómenos não é necessário a existência de qualquer aviso meteorológico, o que os torna ainda mais perigosos face à sua imprevisibilidade.
Já sobre o grau de destruição ainda tem a ver com a velocidade dos ventos e com a sua rotação, até porque um tornado pequeno pode ser mais violento do que um dos grandes. “Não é a sucção que conta no grau de destruição ou até a velocidade dos ventos, mas sim a força da rotação”, garante o responsável pela MeteoAbrantes revelando que daquilo que viu umas árvores foram arrancadas pela raiz, como demonstram as fotos, outras partiram a meio “por estarem mais secas”.
Já o presidente da Junta de Freguesia manifestou-se impressionado com aquilo que viu nos três quilómetros e confessa que ainda bem que não foi em zonas habitadas.
Recorde-se que são cada vez mais os registos de tornados ou fenómenos de ventos intensos que assolam o nosso país e a região. E alguns que passam por zonas habitadas deixam mesmo um rasto de destruição mais visível e com elevados prejuízos.
Créditos: Hélder Silvano (MeteoAbrantes)
Os tornados são fenómenos meteorológicos em que uma coluna de ar gira de forma violenta e perigosa colocando em contacto uma nuvem com a superfície da terra. É um dos fenómenos mais intensos e imprevisível que existe e pode ter ventos em rotação dos 65 aos 180 km/h. Pode ter várias dimensões de diâmetro e pode “deslocar-se” ao longo de quilómetros.
A intensidade dos tornados mede-se através de uma escala, denominada como escala de Fugita. Do F0 ao F5 estão catalogadas as velocidades dos ventos e há mesmo a possibilidade de na escala poder haver um F6, depois do tornado de Oklahoma, em 1999, ter registado ventos de 533 km/h.
Jerónimo Belo Jorge