Tinha 66 anos e reformou-se. A filha, Vanda Serra, militante do envelhecimento ativo, instigou-o a fazer “alguma coisa”. Nunca tinha pintado, mas, como sempre gostou de desenhar, foi pela pintura que optou. Há sete meses. Agora fez a sua primeira exposição.
A “matança” na Carregueira de Mação costuma reunir duas centenas de pessoas à volta da mesa e de volta à terra. Desta vez, o repasto tinha mais um prato, quase duas dezenas de pinturas de Isidro Serra. “Deu outra vida à sala”, disse um dos comensais.
O decisivo nem foi exatamente a exposição, apesar de importante: foi o artista. Ouvi-lo. Afinal tem apenas sete meses de aprendizagem. Mas assistir à sua visita guiada foi um privilégio. Perceber que temos ali um artista: comprometido com a sua arte, empenhado numa procura técnica, sempre a procurar ir mais longe, a descobrir formas de conseguir o que ainda lhe escapa. Como se não chegasse, mais importante ainda é perceber como nos seus quadros há um conteúdo superior: não se trata apenas de pintar, mas de condensar significado. Isidro Serra tem uma criatividade simbólica rica, poderosa, embora não seja ainda servida por uma técnica à altura do artista que interiormente já é. Afinal, tem apenas sete meses de pintura, mas sete meses de intensa procura artística.
Logo na primeira aula, o professor não acreditava que nunca tinha pintado. Agora já fez um percurso. Começou pela paisagem, saturou-se. Quis mais. “Gosto de desafios”, diz. Agora pinta quadros que ele próprio concebe, de intenso condensado simbólico, por vezes de claro tom surrealista.
O artista já lá está, inteiro, a técnica que o há-de servir irá sendo construída com tenacidade. Oxalá encontre quem seja capaz de apoiar a maturação do artista que nele já existe. Isidro Serra, um artista a acompanhar. E a certeza de que nunca é tarde para começar.
José Alves Jana