O Picareto de Ortiga ganhou a final distrital (Santarém) das 7 Maravilhas da Cultura Popular de Portugal.
O bote esteve sempre a liderar a votação do distrito de Santarém.
Agora, depois das fases finais de cada distrito serão conhecidos 20 dos 28 pré-finalistas. Haverá, no final de agosto, dois programas em que será feita a repescagem de entre cinco a oito candidatos que ficaram em segundo lugar nas finais distritais. O objetivo é ter 28 pré-finalistas de onde vão sair as 14 maravilhas que irão disputar a final nacional a 5 de setembro. Será nesse momento que serão declaradas as 7 Maravilhas da Cultura Popular de Portugal
De recordar que as candidaturas abrangiam sete categorias: artesanato; lendas e mitos; festas e feiras; música e danças; rituais e costumes; procissões e romarias; e artefactos.
Recorde-se ainda que a Câmara de Mação candidatou-se a todas as categorias: Artesanato: Velas de Cardigos; Lendas e Mitos: Lenda de Nossa Senhora da Moita, de Galega/Feiteira (freguesia de Carvoeiro); Festas e Feiras: Feira dos Santos; Músicas e Danças: Passo Lento, de Ortiga; Rituais e Costumes: Terço da Farinheira, de Mação; Procissões e Romarias: Procissão do Divino Espírito Santo, de Cardigos; Artefactos: Barcos Picaretos do Tejo, de Ortiga.
O painel de especialistas analisou e escolheu então os sete candidatos do distrito de Santarém.
Nesta final distrital ficaram, para já, pelo caminho as candidaturas: Festas de Nossa Senhora da Boa Viagem, de Constância, as Velas de Cardigos, de Mação, as Capelas enfeitadas com Tapetes de flores, de Sardoal, Festa da Bênção do Gado, de Torres Novas, a Cestaria em Junco, de Coruche, e as Mantas de Minde, do concelho de Alcanena.
Momento em que Vasco Estrela e Arlindo Consulado Marques apresentaram o Picareto
O Picareto de Ortiga
O Picareto é um bote construído em Ortiga para pesca profissional nos rios. Segundo João Filipe, já lá vão dez anos desde que o Ti Fontes construiu os últimos. Mas a arte não se perdeu porque o Ti Fontes deixou as plantas e a forma de construir o Picareto.
Na definição do Picareto, na página do concurso a definição é feita desta forma: “No concelho de Mação foram construídos os últimos Picaretos anunciando-se o seu fim com o de quem lhes dedicou mais de 6 décadas de vida. A história dos Picaretos é mais antiga, são 300 anos de uso deste barco, ou bote, para a pesca e para o transporte de pessoas no Tejo.
Manuel Fontes, o último Calafate de Ortiga – Mação deixou-nos os seus últimos trabalhos, dos mais de 300 que fabricou, tendo começado com 22 anos a trabalhar com a obra preta: trabalho de madeira que mexe com resina e alcatrão.
Os Picaretos, por terem a forma de uma picareta agrícola, têm 6 metros de comprimento e são um barco de aresta, com fundo chato podendo navegar com um palmo e água. São, assim, muito bem construídos em cerca de 20 dias com recurso a cerca de 100 tábuas, de 4 pinheiros. Depois de construída a estrutura coloca-se a “estopa” nas costuras do barco, entre as tábuas, com recurso a uma calafetadeira e um maço. O leito leva um revestimento de pano-cru e, por cima, uma camada de pez ficando como que encerado.
O barco é parecido na sua divisão com o corpo humano, dividido em fundo, costado e leitos.
A tábua do centro, a espinha, é que manda em toda a obra, e as do lado são cortadas ao meio, para darem a curva, e depois leva travessas ou cavernas.
O costado é feito só de tábuas compridas, uma em cima que se chama de boca e outra ligada ao fundo que se chama aresta, tem um molde e é deitado um pouco para trás para fazer o esbarramento, como se diz, ou fica feio em jeito de uma arca e sem equilíbrio na água.
O Picareto tem dois leitos: o mais largo é o leito grande onde, em cima, se trabalham as redes e onde, por baixo, se dorme.
O leito pequeno, que é o da proa, onde se mete o serrão da “bucha” para comer e os sapatos, pois no barco é obrigatório andar descalço.
A espessura da madeira que reveste o barco é de vinte milímetros.
Todas as peças do barco picareto, interiores e exteriores, têm uma designação própria, como os trancanis da proa, o cágado do remo, a tábua das bufas, o buraco do trapeiro, o entre pares, a chumaceira, a draga, o vertedouro ou os fiéis, entre outras.
Os barcos Picaretos são parte da nossa identidade, a par do Rio Tejo, sendo considerados autênticas obras de arte por conjugarem a experiência dos pescadores com a criatividade dos seus construtores. A técnica da sua construção passou de geração em geração e assumem-se hoje como um dos maiores bens da nossa história, com a certeza do seu fim, com a extinção dos Calafates, que foram muitos.
Em Ortiga, no sul do Concelho de Mação, vai inaugurar em breve o Núcleo Museológico, que será um um Polo Museológico das artes da pesca tradicional no rio Tejo, onde o Picareto tem lugar de honra assumindo-se como peça principal. Por tudo isto, porque é uma criação maravilhosa que trazia auxílio aos pescadores e comida às mesas e porque ainda cruzam as águas do nosso Tejo, se apresenta esta candidatura do barco Picareto de Mação”.
Picareto de Ortiga na Praia Fluvial de Ortiga