Os 25 anos da entrega do Nobel da Literatura ao escritor português José Saramago serão assinalados no domingo com a doação de parte da biblioteca particular do autor à Junta de Freguesia de Azinhaga, anunciou a Fundação José Saramago.
Em comunicado, a Fundação José Saramago adianta que a filha de Saramago, Violante Saramago Matos, “doará cerca de 100 títulos, a grande maioria romances, dessa biblioteca construída entre os anos 40 e o início dos anos 70”.
A cerimónia vai contar ainda com a leitura do discurso de aceitação do prémio, proferido em Estocolmo no dia 10 de dezembro de 1998.
José Saramago nasceu no dia 16 de novembro de 1922 em Azinhaga, no concelho da Golegã, distrito de Santarém, terra que recordou logo na abertura da sua palestra do Nobel.
“O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia, Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo. Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro”, disse o escritor.
Romancista, cronista, ensaísta, dramaturgo, poeta e jornalista, o único português premiado com o Nobel da Literatura até ao momento estreou-se na ficção com “Terra de Pecado”, em 1947, mas só voltou a esse género passados 30 anos, com “Manual de Pintura e Caligrafia”.
Em 1980 lançou um dos títulos mais celebrados da sua bibliografia, “Levantado do Chão”, e a partir daí enceta uma série de obras marcantes da literatura portuguesa do século XX: “Memorial do Convento” (1982), “O Ano da Morte de Ricardo Reis” (1984), “A Jangada de Pedra”, “História do Cerco de Lisboa”, “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991), “Ensaio sobre a Cegueira” (1995), “Todos os Nomes” (1997), “A Caverna” (2000) e “O Homem Duplicado” (2002).
Mais tarde chegaram ainda “Ensaio sobre a Lucidez” (2004), “As Intermitências da Morte” (2005), “A Viagem do Elefante” (2008) e “Caim” (2009), o último dos romances publicados em vida. Múltiplos dos seus trabalhos estão adaptados para o teatro e para o cinema.
Ativo politicamente, envolvido em várias controvérsias ao longo da vida, venceu o Grande Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores, em 1993, o Prémio Consagração da Carreira pela Sociedade Portuguesa de Autores e o Prémio Camões, ambos em 1995, entre muitos outros galardões e homenagens.
Saramago morreu na ilha de Lanzarote, em Espanha, em 2010, para onde se tinha mudado em 1993 “em consequência da censura exercida pelo Governo português [liderado por Cavaco Silva] sobre o romance ‘O Evangelho segundo Jesus Cristo’, vetando a sua apresentação ao Prémio Literário Europeu sob pretexto de que o livro era ofensivo para os católicos”, como recorda a biografia que redigiu e que está patente no ‘site’ da fundação com o seu nome.
Lusa