Faleceu esta segunda-feira, 25 de outubro, Alcínio Serras o professor de jornalismo do Liceu, charadista e dirigente associativo. Tinha 87 anos de idade.
Alcínio Dias de Matos Serras nasceu no lugar das Varandas (freguesia de Mouriscas), em 22 de janeiro de 1934.
Alcínio Serras fez a escola primária em Mouriscas tendo depois frequentado o Colégio Infante de Sagres, onde fez o 5.º ano dos liceus. Seguiu a carreira estudantil em Lisboa onde onde completou o 7.º ano no liceu Pedro Nunes.
Alcínio Serras foi bancário e professor e licenciou-se em Sociologia pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE).
Para além destas áreas profissionais, o nome de Alcínio Serras está ligado, de forma muito forte, ao charadismo em Portugal.
De acordo com o blogue “Mouriscas – Terras e Gentes” da autoria de João Manuel Maia Alves, o nome de Alcínio Serras está intrinsecamente ligado às charadas. Um gosto e, talvez vício, que passou para o seu filho.
É aqui que podemos ler uma descrição do jogo que é uma charada e em volta das quais Alcínio Serras passava horas e horas da sua vida, dos seus tempos livres. “Uma charada é um jogo verbal em que, a partir dalgumas palavras não muito claras, se tem de descobrir uma solução. Um exemplo poderia ser este: Pela primeira se pode entrar; a segunda pode-se desfraldar. A solução é porta-bandeira. Este é um exemplo muito simples. De charadas, a maioria das pessoas conhece as palavras cruzadas. Há muitos outros tipos de charadas - aferéticas, protéticas, apocopadas, paragógicas, sincopadas, epentéticas, etc. É extremamente difícil decifrar muitas delas”.
Era frequente, há uns dez ou 15 anos, ir às Mouriscas e encontrar o professor Alcínio Serras numa mesa de café de caderno na mesa envolvido em letras e palavras.
No charadismo, Alcínio Serras, era conhecido pelo pseudónimo de “Aldimas”.
Em 1997 organizou no Sardoal um encontro de charadistas que teve impacto nacional e contou com a presença de um casal de charadistas brasileiro.
No associativismo, Alcínio Serras sempre teve uma ligação muito forte à Casa do Povo de Mouriscas onde foi sempre um dos dirigentes de proa. Mesmo nos últimos anos, em que houve uma renovação dos quadros diretivos, Alcínio Serras sempre foi um dos nomes a ter em conta e a ser auscultado sempre que era preciso tomar decisões de peso na vida da associação.
Nos últimos anos deixou de pertencer aos corpos diretivos, mas era um dos dois elementos de ligação aos sócios e quotização.
Alcínio Dias de Matos Serras era casado com Maria Antonieta Cadete Simão de Matos Serras, professora primária de várias gerações de mourisquenses, uma união que deixou um casal de descendentes.
O funeral do professor Alcínio Serras é esta terça-feira às 14:30 com as cerimónias fúnebres na Igreja Matriz e o enterro no cemitério de Mouriscas.
Obrigada, mil vezes obrigada!
Foi ele que me abriu as portas deste mundo que chamo de meu. A rádio, o jornalismo... tudo começou com Alcínio Serras.
Foi pelas mãos do professor “Cininho”, como era carinhosamente tratado pelos seus alunos, que defini o que viria a ser a minha vida profissional mas não só.
Mais do que ensinar, e ensinou muito, o que ele gostava mesmo era de formar pessoas. Homens e mulheres, rapazes e raparigas que quer na sala de aula, quer fora do contexto escolar, fossem boas pessoas.
Mais do que me ensinar a fazer perguntas e a não ter medo de as fazer, pois teriam sempre que ser feitas de modo correto, ensinou-me a não parar diante da primeira resposta. Fosse do que fosse.
Mais do que guiar-me no mundo da rádio, ao qual me apresentou tinha eu 14 anos, guiou-me na vida pois, qual pai, nunca deixou que a “moral e os bons costumes” fossem termos estranhos para mim.
Podia contar muitas das histórias ao longo dos anos pois a nossa relação de amizade prolongou-se para além da escola mas essas ficam agora na minha memória e vão fazer-me sorrir cada vez que pensar em ti (sim, a nossa amizade evoluiu ao ponto de te tratar por tu, coisa que adoravas).
Quem quer que tenha passado pelas aulas do professor “Cininho” tem uma história para contar. Todos te guardámos no nosso coração e é aí que vais permanecer.
Ao meu professor de Jornalismo, um obrigada por todos os ensinamentos.
Ao meu amigo Alcínio Serras, um eterno obrigada pela amizade e por, pelo menos tentar, fazer da miúda uma mulher melhor.
Fica em paz, professor Alcínio.
Patrícia Seixas