Oksana Rybak tem, por estes dias, um olhar muito mais atento ao seu país. Natural de Donetsk, esta doutora em ciências químicas de 45 anos, desde 2008 em Abrantes, gostaria de ouvir a notícia que todos também anseiam: cessar-fogo ou acabou a guerra.
Há uma semana Oksana revela que teve um choque muito grande porque “ninguém estava à espera, o país foi apanhado de surpresa com os bombardeamentos, quando os russos diziam que estavam a retirar as tropas da fronteira.”
Quando começou a ofensiva, a 24 de fevereiro, Oksana, em Portugal, recebeu telefonemas de colegas a perguntar se estava na Ucrânia e foi aí, a partir desses telefonemas, que fui ver as notícias. “Desde esse dia não consigo manter a minha vida calma a saber que o meu país está a ser bombardeado e invadido, que é repugnante e que tem de ser condenado”, relata esta ucraniana.
Natural de Donetsk explica que a universidade em que estou foi deslocada da cidade, ocupada desde 2014 pelos separatistas, para território sob controlo da Ucrânia. E agora teme que tenha de haver uma nova relocalização porque a cidade em que está atualmente essa instituição está controlado pelas tropas da Rússia.
Oksana tem o pai em Portugal, “que tem o coração partido”, mas ainda tem uma irmã na Ucrânia. E acrescenta que tem muita dificuldade em sair do país porque estão na zona que está a ser muito atacada e não há, nesta altura, corredores para saída dos civis. “Vamos ver quando é que conseguimos resolver esta situação”, revela mantendo esperança de trazer a família para Portugal. E diz que já estão a falar com a embaixada em Portugal para fazer as coisas da forma certa.
Logo de seguida fala de amigos que tem em Kiev e em Mariupol. Oksana revela ainda que deixou de ter contactos com o amigo de Mariupol, enquanto que vive em Kiev saiu para Dnipro. Mas os relatos que tem recebido é que “estão a viver um horror.”
Ao sétimo dia de guerra Oksana Rybak explica que segue o conflito através de uma ligação do Ministério da Defesa ucraniano que faz uma atualização permanente daquilo que se passa no país. “Não vejo notícias da parte da Rússia porque e tudo retorcido, é tudo propaganda” explica acrescentando que tenta acompanhar a comunicação social portuguesa, mas nesta quarta-feira tiveram de sair de Kiev.
Num dia em que estão agendadas conversações entre as duas partes, Oksana diz que não acredita nestas conversas: “se há abertura para conversações não deve haver tropas (russas) no país. Alguém tem de ceder. Somos um país democrático e queremos fazer parte da União Europeia. E o preço que estamos a pagar pela liberdade é este.”
Oksana Rybak
Oksana Rybak ressalva que quando fala dos russos não se refere à população, mas sim “do chefe do governo. Do chefe, porque no governo já estão a sentir que isto não vai correr bem para a Rússia.”
Quanto aos ucranianos Oksana diz-se muito orgulhosa por todos os que ficam a lutar pelo seu país e sente-se emocionada por cidadãos de outros países que vão lutar pela Ucrânia, principalmente cidadãos das ex-repúblicas soviéticas: Lituânia, Estónia e Letónia. “Vão lá e lutam porque sabem o que é viver sob ditadura.”
E conclui a dizer “sou ucraniana e sei qual é o espírito. Sei que vamos ficar até ao fim e não nos ajoelhamos. O problema é que, pelo meio, temos mortes e mortes de crianças quando têm dito que não vão afetar infraestruturas civis. O que estamos a ver é o contrário.”
Sobre a ajuda que começa a ser transportada para a Ucrânia, ou pelo menos para as fronteiras, Oksana explica que está em contacto contínuo com a embaixadora ucraniana em Portugal e que o que faz mais falta é roupa quente, porque está muito frio, e “a grande necessidade (sei que a população de Abrantes não pode ajudar neste ponto) é coletes à prova de balas e capacetes para equipar os civis e os estrangeiros que se estão a juntar ao exército.”
A concluir, Oksana Rybak diz que a notícia que mais gostava de ouvir, por estes dias, era que a Ucrânia era aceite pela União Europeia. A luta é por isso mesmo, diz esta ucraniana, o país escolheu o “seu caminho para o ocidente, quer fazer parte da União Europeia, quer fazer parta da NATO e ser protegida. E estes são os pontos que o governo russo já disse não serem negociáveis. “Gostava de continuar a ouvir o apoio do mundo e que fosse respeitado o desejo da Ucrânia e claro a notícia que vai haver um cessar-fogo.”