Uma equipa de investigadores do Instituto Superior Técnico apresentou em março um estudo com crianças entre os cinco e os dez anos para observar como reagiriam ao ver outras crianças serem excluídas por robôs durante um jogo colaborativo. Mesmo enquanto espectadoras, as crianças sentiram-se excluídas e impotentes, mas demonstraram maiores níveis cooperação e entreajuda para com outras crianças. Surpreendentemente, as crianças mantém a curiosidade e manifestam interesse em brincar com os robôs, mesmo após assistiram às cenas ostracização em vídeo.
No estudo, os investigadores filmaram um vídeo em que dois robôs e uma criança a jogavam com uma bola. Inicialmente passavam a bola entre si, mas, durante a experiência, os robôs passavam cada vez menos vezes a bola à criança. Ao manipular estas interações, os investigadores simularam um cenário de exclusão social, onde os robôs excluíam a criança da atividade. “Este método permitiu-nos perceber como as crianças reagem ao observar a exclusão num ambiente experimental controlado”, refere a investigadora principal, Filipa Correia, investigadora no Interactive Technologies Institute.
Os investigadores registaram várias reações das crianças depois do estudo. “Os resultados indicam que as crianças que observaram exclusão relataram mais níveis baixos de pertença e controlo em comparação com as crianças que observaram inclusão”, acrescentou Filipa Correia. Além disso, demonstraram mais comportamentos pró-sociais em relação a outra criança do que aquelas que testemunharam a inclusão, sugerindo uma procura por aceitação e o fortalecimento de vínculos após a experiência de exclusão.
Apesar dos efeitos negativos, as crianças expressaram surpreendentemente uma vontade de brincar com os mesmos robôs após o estudo, o que pode indicar uma interação complexa entre experiências adversas e o efeito de novidade de brincar com robôs.
O estudo levanta ainda considerações éticas importantes sobre o fabrico e utilização de robôs sociais em ambientes com crianças. A equipa sublinha a necessidade de práticas responsáveis no desenvolvimento de tecnologias robóticas amigas das crianças. “Se a Siri fosse acidentalmente capaz de entender um grupo de crianças exceto uma, mesmo que esta não fosse uma característica intencional, a criança poderia sentir-se excluída, o que poderia mudar os seus sentimentos e ações relativamente a outras crianças e adultos”, exemplifica Filipa Correia. Esta sensibilização poderá orientar os decisores políticos, designers e educadores, garantindo uma integração segura e benéfica dos robôs em contextos educativos e sociais.
Este estudo foi liderado pelo Interactive Technologies Institute e pelo INESC-ID, em colaboração com a Reichman University (Israel) e contou com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, do Projeto Horizonte Europa DCitizens e do projeto PRR eGames Lab.
Daniel da Costa Ribeiro
Comunicador de Ciência